Com a eleição, no passado dia 12 de junho, do novo Superior Geral do Instituto Missionários da Consolata (IMC), o padre James Lengarin sucede ao padre Stefano Camerlengo, que termina assim o seu segundo e último mandato à frente deste instituto missionário ad gentes. Agora, em jeito de despedida, padre Stefano deixa-nos um Mensagem em que manifesta gratidão pela confiança nele depositada, pede perdão pelos possíveis erros cometidos, diz-se pronto para se “tornar peregrino” de “novos caminhos”, e, citando o Beato José Allamano, anima a todos os missionários a abrirem-se com confiança a uma missão que deve estar “na cabeça, nos lábios e no coração”. Deixa ainda votos e palavras de ânimo e coragem ao novo superior geral, padre Lengarin. Com o título “Uma saudação, uma lembrança, um voto”, leia o texto da mensagem de despedida do padre Stefano Camerlengo
Uma saudação, uma lembrança, um voto
ao terminar o meu mandato como Padre Geral do Instituto
Caríssimos missionários,
Ao terminar o meu mandato ao serviço do Instituto, gostaria de agradecer a todos e a cada um de vós pelo caminho que percorremos juntos, e pedir perdão por aquilo que não consegui ser ou fazer, por aquilo de que não cuidei e, finalmente, pelo irmão que não soube acompanhar e abraçar.
Foi uma grande graça poder servir o meu Instituto que amo. Recebi muito mais do que aquilo que fui capaz de dar. Posso dizer com sinceridade e honestidade que procurei viver o meu serviço de forma intensa e o menos indigna possível. Dei o melhor de mim mesmo e o que correu mal… “não foi por má vontade”.
Agora abre-se uma nova página da minha vida e eu estou pronto para me tornar peregrino, deixando o já conhecido e me aventurar por novos caminhos, aceitando tornar-me estrangeiro não só em relação aos outros, mas também em relação a mim mesmo, aos meus projetos e às minhas expectativas e buscas. Será uma condição difícil de viver, mas saudável, porque me obrigará a limpar o meu coração para o tornar mais disponível e hospitaleiro às surpresas de Deus, da própria vida e da missão.
Permitam-me que refira os ingredientes que um antigo peregrino medieval identificou como necessários para o caminho de Santiago de Compostela. Ele falava de sete ingredientes, ou melhor, de seis mais um, pois o sétimo não devia ser considerado o último ingrediente, mas o meio para viver bem os seis primeiros. Eis os seis ingredientes: a paciência dos que não têm pressa, o silêncio, a solidão, o esforço, a sobriedade, a gratuitidade. O sétimo ingrediente, ou melhor, o “mais um” é a “beleza”, que deve dar sentido e cor a todos os outros. Todos os seis ingredientes devem conduzir à beleza. Assim, uma vida bela, uma bela experiência de Deus, uma bela oração, um belo caminho, uma bela missão…
A peregrinação que vou empreender deve também ter as cores dos seis ingredientes acima mencionados. Quero pôr-me a caminho com a paciência de quem adota o ritmo do passo a passo, sem queimar as etapas. Com o silêncio de quem escuta não só para compreender, mas também para acolher, hospedar e guardar. Com a solidão de quem não se fecha no seu individualismo egoísta e autorreferencial, mas sabe envolver-se em primeira pessoa, com responsabilidade e coerência. Com o esforço de quem sabe empenhar com inteligência e criatividade as energias que ainda existem, sem guardar para si o que deve ser partilhado com os outros. Com a sobriedade de quem sabe discernir para compreender qual é o passo a dar em cada momento e aprende a distinguir o que deve ser colocado na mochila, porque é necessário, e o que deve ser deixado em casa, para não se carregar de lastro inútil. Com a gratuitidade de quem não procura a si mesmo, mas o bem do outro, e não visa nenhum ganho ou sucesso para além de uma alegria partilhada. Que fique claro que não se trata de uma alegria qualquer, mas da alegria do Reino, da alegria do Evangelho, da alegria dessa boa e bela notícia que é Jesus, da alegria da sua Páscoa, da sua salvação e da sua missão.
Desejo viver tudo isto colorindo-o de beleza. Certamente não uma beleza meramente estética, mas uma beleza que seja harmonia, equilíbrio, coerência e fidelidade. Não basta procurar o bem, mas é necessário procurar um bem que seja belo e, portanto, atrativo, persuasivo, consolador e, sobretudo, capaz de emanar uma luz que ilumine e aqueça. Gostaria de viver este novo itinerário guiado e sustentado por estes seis ingredientes, na esperança de ser iluminado pelo magnetismo da missão, que para nós é vida e vocação.
Isaías proclama: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, do mensageiro da boa nova que anuncia a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52,7).
Pés cansados e sofridos pela longa viagem, mas pés belos. Pés belos porque dispostos a anunciar o perdão, a misericórdia e a salvação. Assim eram os pés de Jesus. Assim são os pés de todo o verdadeiro peregrino, que ousa fazer-se estrangeiro até para si mesmo, para levar a paz aos outros.
Caminhemos na vida para nos abrirmos com confiança e com surpresa a uma missão que está “na cabeça, nos lábios e no coração”, como nos ensinou o nosso amado Fundador, o Beato José Allamano, e como a viveram todas as várias testemunhas e a nossa querida Consolata, confiando sempre e sem hesitação que… “o melhor ainda está para vir!”
Para concluir, gostaria de apresentar os meus mais sinceros e fraternos votos ao novo Superior Geral que a Providência de Deus nos concedeu, e com ele também a toda a sua equipa que o Espírito Santo escolheu para cuidar da família do nosso Instituto. Mais do que as dificuldades e os problemas que existem, convido-vos a olhar para o bem, o verdadeiro e o bom, para a pessoa do missionário, para as comunidades que acompanhamos, para a grandeza e profundidade da missão que servimos, para o muito amor, bondade e “generatividade” que existe. Ser Missionários da Consolata coloca-nos em posição para “ser santos”! “Que o Senhor volte para nós o seu olhar, nos mostre o seu rosto e nos dê a paz!”
A todos e a cada um: OBRIGADO! CORAGEM E AVANTE IN DOMINO!
Padre Stefano Camerlengo
Roma, 11 de junho de 2023, São Barnabé!