O Papa Francisco é atualmente a figura mais relevante, influente e popular do planeta. Um feito alcançado em apenas cinco anos de pontificado (13 de março 2013). Quando Bergoglio assumiu o governo da Igreja encontrou uma instituição com problemas gravíssimos. Ou os escondia debaixo do tapete, adiando decisões (acusam João Paulo II e Bento XVI de inação), ou ousava vias de solução. Preferiu agir, e em várias frentes, algumas dolorosas, que continuam a provocar fortes resistências, a começar pelos membros da própria Cúria Romana. Ninguém lhe fica indiferente.
Este é o Papa que declara tolerância zero aos abusos sexuais na Igreja; que exige transparência no Banco do Vaticano; que denuncia a corrupção e a “economia que mata”; que desafia bispos e padres a saírem das sacristias e a “cheirarem a ovelha”, promovendo uma “Igreja em saída”, mais missionária. Um papa que escolhe a simplicidade, renunciando à pompa dos palácios pontifícios; que prefere as periferias; que proclama o Ano da Misericórdia, porque ”o nome de Deus é misericórdia”.
Entre outros documentos, Francisco assina uma exortação apostólica que nos desafia a vivermos na alegria do evangelho (“O Evangelho da Alegria”); uma encíclica (“Louvado Sejas”) que apela a assumirmos que habitamos um mesmo planeta, a “casa comum”, da qual devemos cuidar; uma exortação sobre a família (“Alegria do Amor”) que convoca a Igreja ao discernimento, mais além das meras proibições.
A vida e a sociedade mudam, hoje, a velocidades nunca vistas. A Igreja Católica nem sempre sabe acompanhar essas mudanças. Muitas das vezes resiste-lhe, fincando os pés no passado, na tradição, no ritual e no latim, no “sempre foi assim”. É uma instituição bimilenária, com uma estrutura pesada, onde reformas profundas se impõem. A primavera está em marcha e ninguém a poderá deter. Este papa prioriza a ternura e a misericórdia do evangelho à rigidez da doutrina.
“A mensagem de Jesus é incómoda e nos incomoda, porque desafia o poder religioso mundano e mexe com as consciências”, escreveu Francisco, recentemente, no Twitter.
A Francisco, que só tem um pulmão, agradecemos os gestos e as palavras que enchem de ar fresco os pulmões da Igreja e do mundo. Em tempos tão conturbados, convenhamos, é um pulmão que nos tem ajudado a respirar.
Albino Brás, in FÁTIMA MISSIONÁRIA, março 2018