As «virtudes heroicas» de Leonella Sgorbati, irmã missionária da Consolata assassinada em 2006 por extremistas islâmicos, na Somália, foram reconhecidas esta semana pelo Papa Francisco. O decreto abre caminho à beatificação da religiosa, que enquanto estava a ser assistida depois de ter sido baleada, repetiu várias vezes «eu perdoo, eu perdoo».
Sgorbati foi para a Somália em 2002, numa altura em que o país passava por um período conturbado a nível político, e a influência islâmica extremista ganhava terreno. Ainda assim, a missionária «via com entusiasmo a possibilidade de gerir o centro de formação de enfermeiras, preparando profissionais para o único hospital na Somália».
O seu percurso pastoral foi interrompido a 17 de setembro, em Mogadíscio, dias depois do Papa Bento XVI ter proferido um discurso na Universidade de Ratisbona, em que citou uma frase de um texto antigo em que um imperador bizantino acusava o Islão de nada ter trazido ao mundo se não a guerra. A declaração, que terá sido mal interpretada pelo mundo islâmico, gerou várias manifestações de repúdio. E terá sido neste contexto que extremistas islâmicos na Somália assassinaram a irmã Leonella, atingindo-a com tiros nas costas.
«O martírio da irmã Leonella é um sinal de sintonia com aquele rio de fogo que administra a nossa família desde o início, como habilidade superada até o fim, com a força suave e fecunda da semente que pode morrer para dar à luz. O martírio é um selo que nos leva às origens do carisma, no coração de Cristo, um coração rasgado do qual fluem sangue e água da vida e da consolação. Queremos fazer uma lembrança grata da rota da causa da beatificação da nossa irmã», reagiu a direção-geral do Instituto Missionário da Consolata (IMC), após a divulgação do decreto assinado pelo Papa.
Depois da beatificação da irmã Irene Stefani, a missionária que morreu aos 39 anos, quando curava um doente com peste, Leonella Sgorbati poderá ser a segunda missionária da Consolata a ser beatificada.