Is 50, 4-7; Fil 2, 6-11; Mt 26, 14-27, 66
Entremos no cortejo de Ramos com Cristo, de palmas nas mãos, cantando hossanas. Entremos com Ele na semana santa da nossa vida, nesta semana santa vazia de gente nas igrejas e nas ruas das nossas cidades e aldeias, mas que podemos viver no interior da nossa casa. Sós, mas acompanhados por Cristo que se oferece por casa um de nós. Toda a humanidade em sofrimento vai cumprindo a Paixão de Cristo. Vamos todos atrás de Jesus. Aprendamos d’Ele. Vem da sua Pessoa o atrativo irresistível que desperta renúncias e doação total. A sua entrega salvará o mundo. E a oferta da nossa vida também.
Recordamos o entusiamo com o qual Jesus foi acolhido em Jerusalém. Do mesmo modo, Cristo deseja entrar em nossas cidades e nossas vidas, de um modo novo e diferente. “Que nada nos impeça de encontrar n’Ele a fonte da verdadeira alegria, pois só Jesus nos salva das amarras do pecado, da morte, do medo e da tristeza”, disse o Papa Francisco.
A Liturgia de hoje ensina-nos que o Senhor não nos salvou com uma entrada triunfal nem por meio de milagres prestigiosos. O apóstolo Paulo, na segunda leitura, resume o caminho da redenção com dois verbos: “aniquilou-Se” e “humilhou-Se” a Si mesmo. “Estes dois verbos indicam-nos até onde chegou o amor de Deus por nós. Jesus aniquilou-Se a Si mesmo: renunciou à glória de Filho de Deus e tornou-Se Filho do homem. E não só… Viveu entre nós numa condição de servo: não de rei, nem de príncipe, mas de servo. Para isso, humilhou-Se e o abismo da sua humilhação, que a Semana Santa nos mostra, parece sem fundo.”
O primeiro gesto deste amor “sem fim” é o lava-pés: Mostrou-nos, com o exemplo, que temos necessidade de ser alcançados pelo seu amor, que se inclina sobre nós; não podemos prescindir dele, não podemos amar sem antes nos deixarmos amar por Ele e sem aceitar que o verdadeiro amor consiste no serviço concreto. Quantos gestos concretos vemos nos nossos dias, sobretudo nos hospitais por parte dos profissionais de saúde!
Mas isto é apenas o início. A humilhação que Jesus sofre torna-se extrema na Paixão. Ele é abandonado, renegado, sofre a infâmia e a iníqua condenação. Mas a solidão, a difamação e o sofrimento não são ainda o ponto culminante do seu despojamento. Para ser solidário connosco em tudo, na cruz experimenta também o misterioso abandono do Pai. No abandono, porém, reza e se entrega. No ápice da aniquilação, Jesus revela o verdadeiro rosto de Deus, que é misericórdia. Perdoa aos seus algozes, abre as portas do paraíso ao ladrão arrependido e toca o coração do centurião. “Se é abissal o mistério do mal, infinita é a realidade do Amor que o atravessou.”
O modo de agir de Deus pode parecer-nos muito distante. “Ele renunciou a Si mesmo por nós; e quanto nos custa renunciar a algo por Ele e pelos outros! Mas, se queremos seguir o Mestre, somos chamados a escolher o seu caminho: o caminho do serviço, da doação, do esquecimento de nós próprios.”
Podemos aprender este caminho detendo-nos nestes dias em contemplação do Crucificado, “para renunciar ao egoísmo, à busca do poder e da fama”. Não esqueçamos que “o homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem”.
“Fixemos o olhar n’Ele, peçamos a graça de compreender algo da sua aniquilação por nós e respondamos ao seu amor infinito com um pouco de amor concreto” (Papa Francisco).
Darci Vilarinho