Act 10, 34-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9
1. “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; se morrer dá muito fruto”. É uma Palavra de Jesus que recorre neste tempo litúrgico e que exprime o sentido da sua e da nossa Páscoa. Ele, que é Palavra, pão e vida, compara-se à semente que revela toda a sua força vital precisamente quando cai na terra. Não há fruto sem a morte da semente. Semente que quisesse conservar-se ficaria só e não comunicaria vida. A vida nasce da sua morte na Cruz. “Quando for elevado da terra atrairei todos a mim”. O egoísmo é estéril. Agarrado a si próprio o egoísta acabará por desperdiçar a sua vida. Salvá-la-á aquele que a oferecer, porque a vida é relação e amor. Quem retém o seu próprio respiro acaba por morrer sufocado. Vive-se na medida em que se inspira e respira. A vida circula enquanto for recebida e dada por amor.
2. Foi assim a vida de Cristo, entregue por amor, e é este o sentido da Páscoa enquanto passagem da morte à vida, do egoísmo à solidariedade, do homem velho ao homem novo. Se ainda estamos demasiado agarrados a nós próprios, a Páscoa será uma ocasião para nos libertarmos das nossas próprias ligaduras pondo a nossa vida ao serviço uns dos outros tal como fez o nosso Mestre.
Quero ser otimista. Olho para o mundo e vejo imensos frutos da Páscoa. Vejo gestos de bem-fazer, vejo generosidade sem limites, vejo ternura que brota de corações amigos, vejo sementes de fraternidade e tantos gestos de paz. São frutos da Páscoa de Cristo que poderemos fazer germinar por esse mundo fora. A paz, sobretudo, é uma enorme prenda da Páscoa. É uma dádiva do Ressuscitado. É Ele que nos dá a sua Paz: a paz do coração, a absoluta certeza de sermos por Ele amados e perdoados e portanto de poder amar e perdoar, aquela harmonia profunda que só Deus nos pode conceder.
3. A Paz esteja convosco! Podemos ficar perturbados por cenas horrorosas e inquietantes de conflitos, guerras e morte. Abalados porventura na nossa própria fé, mas confiantes e consolados pela mensagem deixada aos Apóstolos e a cada um de nós: “A Paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também Eu vos envio”. A fazer o quê? A suscitar neste mundo um outro modo de viver, a infundir coragem e esperança, a anunciar e testemunhar essa paz profunda dos corações que transforma sofrimentos, medos ou desilusões. A levar o perdão e a reconciliação de que o mundo tanto precisa. É para isso que somos missionários de Jesus ressuscitado. Podemos ser a Páscoa do nosso mundo.
Darci Vilarinho