Liturgia do 8º Domingo Comum – Ano A

Não vos inquieteis

Is 49, 14-15; 1Cor 4, 1-5; Mt 6, 24-3

«Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
É uma mensagem forte de Jesus neste 8º Domingo Comum. Não se pode ao mesmo tempo servir a Deus e ao dinheiro. O termo dinheiro em aramaico significa “bens materiais”. Aqui tem o significado de tesouros que podem ocupar o lugar de Deus no coração do homem. A riqueza pode transformar-se num ídolo ao qual tudo se sacrifica.
Jesus manda-nos procurar antes de tudo o Reino de Deus. Olhamos para a sociedade e o que vemos é totalmente o contrário: uma procura desenfreada dos bens deste mundo com os quais substituímos Deus.

Para os discípulos de Jesus, o “Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação mais séria, aquilo que dia a dia “faz correr” o homem e que domina todo o seu horizonte. E as preocupações mais “primárias” da vida do homem: a comida, a bebida, a roupa, a segurança, por mais importantes que sejam, são valores secundários, que não devem sobrepor-se ao Reino de Deus. Essas coisas são importantes, mas não precisamos de viver obcecados por elas, porque o próprio Deus se encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos: “tudo o mais vos será dado por acréscimo”.

Preocupamo-nos muito com o trabalho, a família o estudo, o nosso bem-estar, a saúde e muitas outras coisas humanas que amamos por si mesmas e por nós mesmos sem referência alguma ao nosso Deus. Jesus pede-nos para não nos preocuparmos, porque Deus é um Pai bom e providente que se ocupa permanentemente dos seus filhos. Manda-nos olhar para a natureza e aprender dela este abandono filial nas mãos de Pai. Ele sabe. Ele ama, Ele provê, Ele dá o pão de cada dia. Na primeira parte do Pai-nosso o que é que nós pedimos? Que o seu Reino seja uma realidade entre nós. Se buscarmos esse Reino, também o pão de cada dia não nos faltará.
Olhemos para o nosso mundo. O que é que vemos? Que o dinheiro é, hoje, o verdadeiro centro do poder. Com ele se compram consciências, bem-estar, projeção social. O dinheiro corrompe. Por ele mata-se, rouba-se, calcam-se aos pés os valores mais fundamentais. Por ele se renuncia à própria dignidade, se envenena o ambiente, se escravizam os irmãos. Quando tal acontece, quando a lógica do “ter mais” entra no coração da pessoa, o homem torna-se injusto, prepotente e explorador. E’ capaz de tudo. Com o dinheiro, o homem torna-se escravo e escraviza os outros.

Não vos inquieteis: É a resposta de Jesus à fome de dinheiro e bens materiais que grassa no nosso mundo. O cristão não pode embarcar na atitude pagã de viver nessa obsessão. Ele trabalha e confia na providência de Deus. Não se desinteressa do progresso do mundo, mas vive noutra dimensão, buscando o essencial. “Procurai antes de mais o Reino de Deus e o resto vos será dado por acréscimo”. Que o Senhor nos dê o pão de cada dia. E que a tentação da riqueza não destrua a nossa confiança no seu amor de Pai.

Darci Vilarinho