Liturgia do 5º Domingo da Quaresma Ano A

“Eu sou a Ressurreição e a Vida”

Ez 37, 12-14; Rom 8, 8-11: Jo 11, 1-45

O Evangelho deste 5º Domingo da Quaresma tem no centro uma família de irmãos: Marta, Maria e Lázaro. Não se fala de pais nem de filhos, mas de irmãos. Trata-se de uma família amiga de Jesus, uma família acolhedora, que Jesus visita com frequência, uma família que ama Jesus e que se sente amada por Jesus. Um facto abala a vida desta família: Lázaro está gravemente doente. As duas irmãs mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o irmão doente e informam Jesus dessa situação. “Aquele que tu amas está doente”, diz Marta a Jesus.

Penso na situação do mundo que neste momento está a passar por uma tragédia nunca vista. Penso na solidariedade que nos deve unir e animar a todos. No fundo somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai. E há tantos gestos de solidariedade na sociedade humana… Mas devemos também nós dizer a Jesus: “aquele que tu conheces, aquele que tu amas está doente”. É errado ver naquilo que nos está a acontecer um castigo de Deus. Porque Deus ama a todos os seus filhos, quer o nosso bem. Mas pode ser sobretudo uma constatação da nossa vulnerabilidade, da nossa incapacidade de resolver todos os problemas humanos. Podemos então, humildemente, reconhecer a nossa pequenez perante esta tragédia, ao mesmo tempo que fazemos de tudo para sair dela. Num período do triunfo da tecnologia e da ciência, apercebemo-nos da nossa fragilidade, da nossa impotência como seres humanos. Como diz o cardeal Ravasi, perante esta situação, não devemos entrar em pânico, mas ter uma atitude construtiva que não é dominada pelo medo, mas pelo temor. Diz a Bíblia que “o princípio da sabedoria é o temor do Senhor”. Temor, que é uma virtude, “significa estar consciente da complexidade da realidade, que nós não somos árbitros absolutos do ser e do existir”. O temor que é acompanhado pela esperança. O que está a acontecer é também um apelo a mudar o nosso estilo de vida, física, social, económica e espiritual.
Para um crente torna-se natural recorrer a Jesus que assumiu as nossas fragilidades, as nossas dores e pode interceder por nós junto do Pai para que venha em nossa ajuda, e ilumine os cientistas e os médicos a descobrir aquilo que é melhor para esta nossa humanidade. “Senhor, aquele que tu amas está doente”.

Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judeia ao encontro do “amigo”. Ao chegar a   Betânia, Jesus encontrou o “amigo” sepultado há já quatro dias. Entram em cena novamente as duas irmãs, Marta e Maria. Marta diz a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido, mas sei que mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá”.  Disse-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. Disse-lhe Marta: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia”. Replica Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita ainda que tenha morrido viverá. E todo aquele que vive e acredita em mim nunca morrerá. Acreditas nisto”?
A afirmação de Jesus é uma das coisas mais profundas e belas do nosso cristianismo: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Jesus não diz “eu serei”, mas “eu sou”. Quer dizer que não há morte para os “amigos” de Jesus, já aqui neste mundo. Isto é, não há morte para aqueles que acolhem a sua proposta e aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos. Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição e aniquilação: é, apenas, a passagem para a vida definitiva. Isto é, mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos, porque encontraram a vida plena, junto de Deus. “Diante da certeza que a fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como aniquilamento total torna o homem cauteloso e impotente, mas libertando-nos do medo da morte, Jesus torna-nos livres e capacita-nos para gastar a vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena”.

Darci Vilarinho