Liturgia do 5º Domingo da Quaresma – Ano A

Eu sou a Vida

Ez 37, 12-14; Rom 8, 8-11: Jo 11, 1-45

A água, a luz e a vida. São signos batismais desta Quaresma e de toda a nossa existência. Pelo batismo fomos sepultados com Cristo para nele ressuscitarmos para uma vida nova. “Lázaro, sai cá para fora”
“Eu sou a ressurreição e a vida”. “Lázaro, sai cá para fora”, são Palavras de Jesus..
“Vai em paz e não voltes a pecar”. É uma experiência que nos é concedida a nós sacerdotes: termos a alegria de dar o perdão de Deus, tirando do túmulo jovens ou adultos, esmagados sob o peso dos seus pecados, moradores em abismos sem esperança. “Meu padre, ajude-me a sair desta situação! Quero tornar a viver!” E Deus faz festa sempre que, reconciliados, voltamos para Ele. Foi essa a experiência do António e é a experiência de tanta gente que se reconcilia com o Pai. Ouçamo-la:

“Tenho 38 anos. Muitos deles vividos no meio de contradições e desatinos. Só agora é que entrei no caminho da maturidade. Talvez também eu, como tanta gente, para encontrar o Deus vivo e verdadeiro, tivesse que percorrer o túnel do meu desespero. Deus mostrou-se um verdadeiro Pai também para mim. As minhas opções tinham-me levado para longe dele e da sua vida. Tantos erros cometidos e uma progressiva cegueira moral e espiritual. Parecia que não havia remissão para a minha vida sem rumo.
De há dois anos para cá, senti um apelo discreto à verdade e uma íntima nostalgia de paz. Hoje percebo que era a graça de Deus a trabalhar em mim. Era Deus que, apesar do meu estado de morte espiritual, tentava fazer ouvir a sua voz. Esperei e acreditei que fosse mesmo Ele, que batia ao meu coração, porque me queria salvar.
Decidi chamá-lo pelo seu nome. Chamei-lhe “Pai”. Decidi lançar-me cada vez mais na esperança e no diálogo com Ele. Decidi acreditar no seu amor, não obstante os meus pecados. Quereis saber o que percebi? Que também a oração do pecador obtém sempre resposta. Percebi que a sua resposta é sempre uma manifestação imensa de amor paterno. Hoje este Pai enche-me de paz, apesar de tudo aquilo por que passei.
Como poderia ser diversamente? É um Pai que nunca se escandaliza, que não é intransigente, que não conserva rancor. É um Pai que está sempre ao nosso lado, que nunca faz perguntas, não berra, não julga nem condena. Quando começo a falar com Ele, sinto que já entendi tudo. Quando, através do sacramento da reconciliação, me fez entrar na vida da graça, tive a sensação que fez tudo para que não me envergonhasse do meu passado. Senti claramente que Ele nunca se tinha envergonhado de mim. Naquele dia tive a sensação que Ele me introduzia, com uma alegria indizível, numa grande família de amigos. Descobri, com espanto, que o que Ele mais desejava era partilhar comigo a sua alegria e a sua paz.
A minha experiência de homem, salvo do naufrágio, ensina-me que a rocha firme e a âncora de salvação é a fé no amor de Deus Pai, na sua presença e na infinita ternura. É tudo muito simples. Basta entregar-se nos seus braços de Pai e continuar a crer, a pensar e a proclamar todos os dias que, apesar de tudo, mesmo de tudo, Ele ama-nos sem medida. Há sempre uma resposta para cada um de nós. Há sempre uma possibilidade de regresso. Há sempre uma porta que se abre. Ele existe. O seu amor é imenso. Ele cobre-nos de ternura” (A.N.).

Darci Vilarinho