Liturgia do 4º Domingo Comum – Ano C

30 de janeiro de 2022
Jer 1, 4-19; 1Cor 12, 31-13, 13; Lc 4, 21-30

 

O hoje de Deus
1. No início do Evangelho do 4º Domingo Comum (Ano C), tal como no Domingo anterior, está uma indicação temporal muito importante: “Cumpriu-se hoje esta palavra da Escritura que acabais de ouvir”, diz Jesus aos seus conterrâneos para mostrar como é importante o hoje de Deus. Hoje mesmo. É o hoje da incarnação do Verbo de Deus na história humana. É o hoje da passagem de Deus pela minha vida. É o hoje de cada dia e de cada momento em que Deus bate à porta do nosso coração. Se o tivermos livre de outras inquietações, saberemos escutá-lo abertamente. Poderemos abrir ou fechar a nossa porta. “Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações”. A palavra hoje não aparece muitas vezes no Evangelho, mas é importante quando aparece. “Nasceu-vos hoje um Salvador”, dizem os anjos aos pastores de Belém. Em Cafarnaum, depois da cura do paralítico, todos dizem abertamente: “Hoje vimos coisas maravilhosas”. Jesus dirá na casa de Zaqueu: “Hoje entrou nesta casa a salvação”. A Pedro, que está disposto a morrer com Jesus, Ele diz: “Hoje, antes de o galo cantar, me negarás três vezes”. Ao bom ladrão colocado a seu lado junto à cruz, dirá: “Hoje estarás comigo no paraíso”. “Ide hoje trabalhar para a minha vinha” diz o pai aos dois filhos. Um diz que sim, mas depois não vai. O outro diz que não, mas depois arrepende-se e vai. Hoje. “O pão nosso de cada dia nos dai hoje ”.
Hoje é o presente, o único tempo que temos para pedir e para receber, para crer e para esperar, para amar e recomeçar.

 

2. O tempo presente – O tempo que corre e não volta é o grande dom que Deus nos oferece para que o usemos reconhecida e responsavelmente. Embora tudo seja inexoravelmente “devorado” pelo tempo, permanece intacto o bem que fizermos. Todos os segundos que tivermos vivido no amor de Deus e do próximo ficarão para sempre na eternidade de Deus que é Amor.
Sim, é importante viver o tempo presente, porque só esse nos pertence. É essa a recomendação constante da revelação cristã: “Não andeis preocupados com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia a sua aflição”, lê-se em S. Mateus. “Não vos angustieis com coisa nenhuma”, diz-nos São Paulo. E São Pedro acrescenta: “Confiai ao Senhor todas as vossas preocupações, porque Ele cuida de vós”. É a certeza de que há um Pai que nos ama imensamente, cuida de nós, acompanha-nos momento a momento e conhece o que nos faz falta.
Viver o momento presente, na certeza do amor gratuito de Deus Pai, tornou-se ao longo dos séculos um dos pilares da espiritualidade cristã. O ensinamento dos santos, especialistas na qualidade de vida, não deixa dúvidas: “Tu sabes, ó meu Deus – repetia Santa Teresinha – que para te amar sobre a terra só tenho o dia de hoje”. E acrescentava: “Ocupemo-nos unicamente do momento presente. Cada instante é um tesouro”. Não há ações grandes e ações pequenas. Todas e cada uma têm um valor infinito aos olhos de Deus.

 

3. O presente como sacramento – É o quotidiano que se eleva da monotonia dos dias ao mais alto nível espiritual. Cada pessoa, cada circunstância, cada ação pode tornar-se sacramento da nossa comunhão com Deus. O segredo está em fazer coincidir a nossa vontade por vezes rebelde e caprichosa com a sublime vontade de Deus. E a vida torna-se mais simples, porque está toda concentrada sobre o amor com que vivemos o momento presente. Não cruzemos os braços à espera de acontecimentos extraordinários, mas saboreemos o quotidiano, sabendo muito bem que é aqui e agora que se constrói a nossa santidade.

 

Darci Vilarinho