7 de novembro de 2021
1 Re 17, 10-16; Hebr 9, 24-28; Mc 12, 38-44
Deu tudo o que possuía
1. Uma pobre viúva mexicana – conta um missionário – tinha uma única galinha. Um dia bateu à porta da missão e entregou um ovo. Uma pequena oferta, pobre e insignificante. Com palavras simples e os olhos cheios de luz, disse: “Hoje a minha galinha pôs o seu primeiro ovo. É a única coisa que tenho, mas dou-a de todo o coração, porque os primeiros frutos pertencem ao Senhor”. É um pequeno episódio que podemos relacionar com a viúva do Evangelho do 32º Domingo Comum. Sentado diante do tesouro do templo, Jesus ficou conquistado pela generosidade daquela mulher que, em contraste com as chorudas ofertas dos ricos, lançadas com cálculos humanos e interesses escondidos, depositou duas pequenas moedas, que era tudo o que possuía. Ela deitou no tesouro mais do que todos os outros, disse Jesus, porque eles davam da sua abundância e ostentação, mas ela deu tudo o que possuía, tudo o que tinha para viver.
O seu humilde gesto não fez notícia, mas não escapou ao olhar atento de Jesus, capaz de penetrar os segredos do coração humano. As moedinhas eram duas, podia ficar com uma e oferecer a outra, mas não. Na sua máxima generosidade, entregou tudo o que tinha.
2. É esta a lógica do Evangelho, a lógica dos pobres, na qual somos convidados a entrar. De certeza que todos temos duas moedas com que partilhar: o nosso tempo, as nossas forças, capacidades e dons; um sorriso, uma palavra, um gesto. Revejo no meu pensamento e fico maravilhado com a atitude daquele jovem que se ocupa de um deficiente motor durante oito horas por dia. Por amor, gratuitamente. Recordo o sorriso daquela mãe que acode, noite e dia, ao seu filho doente. Com amor e dedicação materna. Congratulo-me com a decisão daquela filha de renunciar a tantas coisas para cuidar da sua mãe crucificada num leito de dor. Com afeto e devoção filial. Com certeza que nós próprios já saboreámos dentro do nosso coração a experiência de darmos qualquer coisa aos outros, com generosidade e alegria. A uma catequista brasileira, perguntaram um dia as mães dos filhos que lhe foram entregues para serem ensinados nas verdades da fé. “A senhora faz isso de graça?” “Não – respondeu ela – de maneira nenhuma! Não faço isto de graça. Mas faço-o por graça (de Deus, entenda-se!)”. Como tanta gente que em nome de Deus dá daquilo que é e não daquilo que tem.
3. Migalhas também são pão – Nós missionários sabemos muito bem o que são estes cêntimos oferecidos pela viúva. São pequenas gotas que enchem o oceano. Migalhas também são pão. Há santos canonizados pela Igreja que se especializaram na oferta de pequenos serviços, de minúsculos atos de amor. Mas, para Deus nada é pequeno, quando é feito por amor. Por mais pequeno que pareça, o que eu der de coração, chega ao coração de Deus que engrandece os nossos gestos mais humildes. Basta um sorriso para fazer brilhar a noite de alguém. O amor é feito de pequenos nadas que podem transformar uma vida. Se até um copo de água fresca dado por amor não ficará sem recompensa, que diremos de tantos “óbolos da viúva” que só o olhar de Cristo sabe devidamente apreciar?
Darci Vilarinho