Liturgia do 30º Domingo Comum – Ano B

Que queres que eu faça por ti?

Jer 31, 7-9; Heb 5, 1-6; Mc 10, 46-52

“Jesus perguntou ao cego: «Que queres que Eu te faça?» O cego respondeu-lhe: «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho”

O cego de Jericó torna-se aos nossos olhos modelo ideal e espelho fiel de cada um de nós. Jesus é a luz do mundo, aquela luz que dá cor e calor à nossa vida. Antes de recebermos o dom da fé, também nós éramos cegos e mendigos. Invocámos o nome do Senhor Jesus e esse nome, Jehoshuá, que significa “Deus salva”, libertou-nos das nossas trevas e projetou-nos na luz de Deus. A fé consiste em aceitar a proposta de Jesus. É tornar-se seu discípulo, como Bartimeu que “seguiu Jesus pelo caminho”.

O que é ser discípulo de Jesus? É aderir à sua pessoa, acolher os seus valores, viver na obediência aos projetos do Pai. Mas é também, como alguém disse, “fazer da vida um dom de amor aos irmãos; é solidarizar-se com os pequenos, com os pobres, com os perseguidos, com os marginalizados e lutar por um mundo onde todos sejam acolhidos como filhos de Deus, iguais em direitos e em dignidade; é lutar contra as estruturas que geram injustiça, opressão e morte; é ser testemunha, com palavras e com gestos, da verdade, da justiça, da paz, da reconciliação. Quem aceita seguir o caminho do discípulo escolhe viver na luz e está a contribuir para a construção de um mundo novo”.

A fé, vista deste modo, não é uma espécie de conhecimento inferior, mas é um “super-conhecimento”, um conhecimento de outra natureza, que permite ao crente conhecer verdadeiramente as coisas do alto, contemplar o que os olhos não viram nem os ouvidos escutaram e olhar com os olhos de Deus para as coisas da terra. O crente é uma pessoa iluminada: vê, para além das aparências, a realidade verdadeira.
É a fé que projeta uma luz nova sobre o mistério da vida e sobre o enigma da história. À luz da fé, a morte não é o fim catastrófico de uma agradável viagem turística por este mundo, mas é a porta que se abre para a felicidade eterna. À luz da fé, a verdadeira grandeza do mundo não é o sucesso ou o poder, mas o amor e o serviço.
Então, esse cego à beira do caminho é a imagem da humanidade que não consegue descortinar a saída para a resolução dos seus problemas. Caminharemos sempre às apalpadelas se não nos valer a luz que vem do alto. Iluminados pela palavra de Deus, poderemos ser os olhos de quem não vê, conduzindo-os para os valores que não perecem.

Que queres que eu faça por ti? Esse Jesus de Nazaré que Se cruzou com o cego cruza-se hoje com cada um de nós e oferece-nos, também a nós, a sua proposta libertadora. “Que queres que eu te faça?”, pergunta Jesus a cada um de nós.
Que eu veja, Senhor! Que eu não me feche no meu egoísmo, nem na minha autossuficiência. Que eu não seja surdo nem cego perante os teus apelos. Que os valores efémeros deste mundo não me distraiam do essencial.
Senhor, que eu veja: O bem a fazer, o mal a evitar, a pessoa a ajudar, a situação a resolver. Precisamos todos desta vista que é a fé que salva para O seguir pelo seu caminho. Andamos por aí às vezes como cegos a guiar outros cegos, sem enxergar um palmo na frente do nariz. Que o Senhor cure a nossa cegueira.

Darci Vilarinho