Is 66, 18-21; Heb 12, 5-13; Luc 13, 22-30
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, diz o Senhor.
Como noutros trechos do Evangelho, Jesus não responde diretamente à pergunta que lhe fazem. Alguém lhe perguntou se são muitos os que se salvam e Jesus responde com a imagem de uma porta estreita para entrar no banquete do Reino de Deus. Não se participa nele por privilégio, mas pela vida marcada pelo bem.
Alguns rabinos sustentavam que todo o povo de Israel seria salvo, por causa da fidelidade de Deus. Outros, mais rigorosos, diziam: “Deus criou este mundo por amor de muitos, mas criou o mundo futuro para poucos”. Havia portanto um debate teológico nas escolas rabínicas. A Jesus não lhe interessa este debate estéril, não lhe interessa o número – se poucos ou muitos -, mas interessa-lhe a falsa segurança que pode derivar de uma errada pertença ao Senhor. Com a imagem da porta estreita e do esforço que é preciso para entrar, Jesus quer dizer-nos que não há tempo a perder. A porta pode ficar fechada, mesmo para os amigos. Não basta dizer que se é filhos de Abraão, mas o que é preciso é possuir a fé de Abraão. Nenhuma segurança, mas vigilância é que é preciso. Estar atentos aos tempos de Deus.
A pergunta não deve ser: são poucos os que se salvam? Mas: o que é que devo fazer para não ficar excluído da salvação? Jesus chama-nos a atenção para não aplicarmos o cálculo económico na vida da fé. Em quantas missas devo participar para ter a salvação garantida? Quantas cruzes devo colocar na minha casa? Quantas imagens de Santos ou de Nossa Senhora devo ter no meu quarto? Quantas velas devo acender na igreja para ter um lugar no Paraíso? Quantas orações devo fazer para garantir a minha amizade com Deus?
Mais do que “quanto”, “quando” e “onde”, Jesus diz-nos que é importante o “como”. Como é que eu vivo a salvação já desde agora? Como é que eu vivo a minha amizade com Deus? Como é que eu vivo o meu relacionamento com Deus e com os outros? Jesus ensina-nos que devemos desde já iniciar a estrada do Paraíso. Já estamos a caminho, porque Ele é o Caminho. A porta do Reino é o estilo de vida marcado pelo amor a Deus e ao próximo que somos chamados a viver.
Nós cristãos, a quem foi concedida a graça (não o privilégio) de ter uma fé explícita em Jesus, temos a possibilidade de conhecer mais profundamente o segredo da vida eterna. Temos nas mãos os meios mais poderosos – a Palavra de Deus, a Igreja, a oração, os sacramentos, os irmãos – para poder passar a porta estreita da vida. Que fazemos com estes meios? “Esforçai-vos”, diz-nos Jesus. Que esforço faço eu para que outros acedam a eles e encontrem o caminho que eu já encontrei?
Darci Vilarinho