1Re 19, 9-13; Ro 9, 1-5; Mat 14, 22-33
O evangelho deste domingo narra-nos a experiência dos apóstolos dentro de um barco açoitado pelas ondas, quase a afundar. Como se estivesse ausente dessa situação, Jesus subiu ao monte para rezar a sós. Não, não estava ausente. No tempo devido, Jesus aproximou-se do barco e a tempestade acalmou.
Da página do evangelho sobressai a imagem da barca que, pilotada pelos apóstolos, sulca o mar agitado da história. É figura da Igreja que nestes dois mil anos tem caminhado inserida na história, lutando contra ventos e marés. Os cristãos não caminham fora da história. São pessoas incarnadas no seu tempo, com os pés na terra e o olhar levantado para o alto. Sozinhos, no alto mar, podemos ter medo, mas se temos consciência de que o Senhor está no meio de nós, se fortalecemos a nossa fé na sua presença, se com ele e como ele nos retiramos para o monte em oração, não podemos ter receio.
Sim! É necessário subir ao monte para rezar, indo beber nas fontes da nossa vocação cristã e afundando as nossas raízes no mistério de Deus e no mistério da nossa própria vida, através do silêncio e da contemplação, para obtermos aquela paz e aquela coragem necessárias para retomar o caminho. A fé, fortalecida na oração, é uma lâmpada na noite das nossas tempestades ou dos nossos medos. Estas férias, passadas na montanha ou no mar, ou no silêncio propício das nossas casas, poderão ser uma ocasião favorável para retomar novas energias e dinamizar a nossa fé.
“Coragem, sou eu! Não tenhais medo!”, diz-nos o nosso Mestre. A vida tem as suas provas e os seus sofrimentos, e os cristãos não estão isentos. Mas uma pessoa de fé sabe levantar os olhos para o alto e sentir-se na presença de Deus. É suficiente chamar por ele e reconhecê-lo nas situações de cada dia. Ele saberá acalmar o nosso coração.
Com certeza que também tu já te encontraste com o coração em tempestade. Talvez já te sentiste arrastado pelo vento contrário para a direção oposta. Quem é que não passa pela provação? O fracasso, a pobreza, a dúvida, a tentação ou a depressão… Às vezes é a dor dos outros que mais nos afeta ou faz sofrer: um filho drogado, incapaz de encontrar o seu caminho. Um marido alcoólico ou desempregado. A separação ou divórcio de pessoas amigas. Uma doença crónica incompreensível. As guerras, as violências ou injustiças pelas quais podemos passar… Ou tantas situações missionárias fortemente complicadas…
São provações difíceis de suportar, sobretudo quando não temos ninguém com quem partilhar a dor ou quando a fé não ilumina o nosso caminho. “Não tenhais medo”, diz-nos Jesus. Também ele, do alto da sua cruz se sentiu provado e abandonado. Também ele teve a impressão de que lhe faltava o conforto de seu Pai. Também ele se sentiu só, inseguro e ferido. Mais do que ninguém sentiu sobre os seus ombros a dor da perversidade humana. Só ele assumiu sobre si todas as nossas dores e provações e se identificou com cada um de nós. Por trás de tudo o que nos faz sofrer, cada circunstância dolorosa ou assustadora é um seu semblante provado. Ele é o amor que afasta todo o temor. Deixemos que Jesus suba para o nosso barco. Convidemo-lo todos os dias a entrar e a ficar na nossa vida. Tornar-se-á seguramente a nossa paz, o nosso conforto, a nossa coragem e a nossa vitória. E a nossa missão neste mundo terá outro sentido.
Darci Vilarinho