Festa da Transfiguração do Senhor

06 de agosto de 2023
Gen 12, 1-4; 2Tim 1, 8-10; Mat 17, 1-9

 

Subiu ao monte para orar
Diz-nos o Evangelho de S. Mateus nesta festa da Transfiguração: “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, em particular, as um alto monte e transfigurou-se diante deles”. S. Lucas diz que Jesus subiu com eles “ao monte para orar”. Como é significativo o comportamento de Jesus que se retira frequentemente para o monte a rezar, arrastando consigo os seus amigos a fim de os associar ao seu caminho. É o seu e o nosso caminho interior que vai da Galileia a Jerusalém. Jesus não gosta de caminhar sozinho, não é um herói solitário. Liga o seu destino a um grupo de pessoas frágeis e limitadas que ele quer transformar. É o encontro com Deus que transforma a vida.
Neste dia 6 de agosto, encerram-se em Lisboa as Jornadas da Juventude que nestes dias empolgaram tantos jovens em volta de Jesus ajudados pela figura do Papa Francisco.
Francisco encontra-se bem entre os jovens, sabe arrebatá-los e conduzi-los para o Alto.

 

Experiência de Deus – Tal como Jesus fez com os três apóstolos Francisco o faz com a multidão de jovens que desejam fazer uma experiência de encontro com Deus. Na vigília desta noite, os jovens serão ajudados a contemplar Jesus num clima extraordinário de oração. A oração verdadeira muda as pessoas. Contemplar transforma a pessoa. O homem torna-se naquilo que contempla com os olhos do coração. Torna-se naquilo que ama e naquilo que reza. Deus, que é luz imensa, derrama-a continuamente sobre nós na sua Palavra, no Pão e no Vinho, no seu Amor.
Deixemo-nos também nós envolver nesta atmosfera, deixando para trás tantas coisas que nos prendem para nos ocuparmos daquilo que é essencial na nossa vida: o encontro com Deus.

 

Escutar – “Este é meu Filho muito amado, escutai-o”, diz a voz do Pai de dentro da nuvem. Quem escuta Jesus torna-se como Ele. Escutá-lo quer dizer ser transformados por ele. A sua Palavra chama, faz existir, cura, muda o coração, faz florescer a vida, dá beleza e ilumina a nossa noite. A fé judaico-cristã, antes de ser a fé da visão, é a fé da escuta. Escutar é uma palavra-chave na Escritura: encontramo-la 1100 vezes no Antigo Testamento e 445 no Novo. É procurar e acolher a luz de Deus para os nossos problemas pessoais ou comunitários para os aprendermos a gerir à luz da sua vontade. É interpelar a Deus sobre os nossos deveres e sobre os seus planos a nosso respeito. “Fala, Senhor, que o teu servo escuta!”.

 

Testemunhar – “Como é bom, Senhor, estarmos aqui!…”, diz Pedro a Jesus. É bom este ambiente que se vive nestes dias da JMJ, mas não se pode parar. Os Apóstolos são convidados por Jesus a descer do monte. O que viram, contemplaram e assimilaram não é para consumo próprio, mas deve ser testemunhado aos outros através das obras de evangelização e de caridade efetiva, escutando o grito dos irmãos. Se o mundo pagão ou descrente se impressiona com o nosso rosto transfigurado, fala mais alto o testemunho da nossa vida. As pessoas não ligam tanto ao modo como ouvimos a Deus, mas como ouvimos e socorremos os nossos irmãos. Oração é indissociável da missão. É bem verdade o que dizia o grande teólogo Bonhoeffer, “uma pessoa que não é capaz de entrar em solidão com Deus não é capaz de comunhão com os irmãos”. E vice-versa: “Quem não é capaz de fazer comunhão com os outros não é capaz de solidão com Deus”. Quanto mais rezarmos, mais sentido de Igreja teremos. Mais nos tornaremos corpo de Cristo que reza em nós pelo mundo inteiro. Quanto mais nos alimentarmos de Cristo na contemplação, mais vontade teremos de comunhão com os outros, distribuindo os nossos sentimentos de amor, de perdão, de mansidão e de misericórdia. A oração conduz sempre à vida, mas de um modo renovado. Seja assim para os jovens da JMJ e seja assim para cada um de nós. Da contemplação à comunhão.

 

Darci Vilarinho