Domingos Forte festeja 25 anos de entrega à missão

 

Domingos Forte

O sonho de uma vida dedicada aos outros levou Domingos Forte a tornar-se Missionário da Consolata. Cerca de 25 anos depois da sua ordenação sacerdotal, lembra com carinho e saudade o rosto daqueles com quem contactou. Domingos foi ordenado na Igreja Paroquial de Ermesinde, a 25 de setembro de 1999, por Armindo Coelho, então bispo do Porto. O sacerdote é natural de Guimarães, tem 56 anos, e foi ordenado aos 31.

 

Por ocasião da celebração das suas bodas de prata sacerdotais, Domingos concedeu uma entrevista à revista FÁTIMA MISSIONÁRIA.

 

O padre Domingos nasceu a 11 de novembro de 1967, em Guimarães. Como conheceu os Missionários da Consolata?

Aos 11 anos frequentava a Escola Preparatória de Joane, e uma das disciplinas que mais apreciava era Religião e Moral. Nesse ano, recebemos a visita de um homem que trajava de modo simples e que tinha um sorriso espontâneo e cativante, e de uma freira com um sotaque estranho, mas agradavelmente comunicativa. Eram dois missionários da Consolata – o padre Pequito e a irmã Ursolina, italiana. O encontro foi simplesmente extraordinário! Entrei nos Missionários da Consolata em Águas Santas, em 1981, para o sétimo ano, e a partir daí, foi como entrar num ‘carrocel’ que até hoje ainda não parou. Vivi um ano em Fátima, passei dois anos em Abrantes, e daí dei o salto para Lisboa, a fim de concluir os estudos com a Filosofia, na Universidade Católica.

 

Uma nova etapa do caminho abriu-se em 1991, ao ingressar em Vittorio Veneto, Itália, na comunidade do noviciado. Não se tratava de um curso académico. Foi muito mais do que isso: foi um tempo de reflexão e aprofundamento das razões e motivações para seguir o ideal missionário ao serviço do Evangelho, no Instituto dos Missionários da Consolata. No final do ano disse: ‘Eis-me aqui, quero seguir!’

 

O ‘carrocel’ da vida não parou e, em 1992, cheguei a Pinos Baja, em Madrid, para cursar Teologia. Foram três anos intensos, exigentes e marcantes, tanto a nível académico, na Universidade de Comillas, como a nível humano, na paróquia de Las Victórias.

 

Antes de dar o último passo para a ordenação, solicitei aos formadores e superiores que me concedessem a oportunidade de realizar uma experiência pastoral e, se possível, longe da Europa. E assim foi: fui enviado para a paróquia de São Miguel de Cuamba, no Niassa, em Moçambique. Foi uma verdadeira bênção! Devia mencionar todos e cada um dos nomes daqueles que tornaram estes dois anos de estágio em Cuamba, como um autêntico farol que, desde então, ilumina e norteia cada passo da minha vida.

 

Estava convencido que o estágio pastoral seria o último passo antes da ordenação, mas não. Foi-me pedido que me especializasse em Pastoral Juvenil. De Moçambique, o ‘carrocel’ estacionou em Roma, em 1996, onde frequentei o curso de ciências da educação na Universidade Pontifícia Salesiana.

 

Que memórias guarda do dia da sua ordenação sacerdotal?

O meu desejo era ser ordenado junto do povo Macua, em Cuamba, Moçambique, por ter sido o primeiro terreno que me foi confiado. Porém, a realidade era diferente. A vida é assim: não te proíbe de sonhar, porém, a realidade também conta. Ser ordenado na minha terra era a segunda opção na lista dos desejos, mas nem esta pôde ser concretizada. Havia uma terceira saída e foi essa que prevaleceu: ser ordenado na Igreja Paroquial de Ermesinde, juntamente com o padre Manuel Magalhães.

 

Após uma tão prolongada ausência da vida da minha família, da minha comunidade e até do meu país, devido a um percurso formativo tão longo, confesso que não almejava nada de vibrante para aquele dia. Mais ainda: uma vez que a ordenação não ia acontecer na minha terra, tinha o receio de que nada de especial se passasse. No entanto, qual não foi a minha surpresa ao ver que a minha gente não só havia desejado e sonhado este dia – muito mais do que eu próprio! – como, inclusive, compareceu em peso, dando o que tinham para celebrar uma festa de arromba! Por isso, sou e serei um eterno devedor à minha família, à paróquia de São João Batista de Airão e, claro aos Missionários da Consolata, pela ajuda, pelo presente de serem e estarem presentes e pela amizade desde o primeiro dia.

No Brasil Domingos Forte afirma que foi pároco de comunidades “vivas, dinâmicas e com uma sede insaciável de aprender”

Como se desenvolveu o seu trabalho missionário no Brasil?

Cheguei a São Paulo, no Brasil, a 21 de janeiro de 2004. A primeira missão foram as periferias de Feira de Santana, a segunda cidade da Bahia a seguir a Salvador, a capital do estado. Foram quatro anos como vigário paroquial na paróquia da Santíssima Trindade, no bairro de Feira X. Além de uma intensa atividade pastoral paroquial, foi-me confiada toda a pastoral ligada à animação missionária e vocacional. Uma experiência que me encheu o coração!

 

Aproveito a ocasião para expressar o meu muito obrigado a toda a paróquia da Santíssima Trindade por me ter recebido e tratado tão bem, pela paciência e compreensão que tiveram para comigo e pela força e ânimo que sempre brindaram.

 

O segundo destino dentro da Bahia foi a paróquia de São João Batista, em Jaguarari. É outro mundo! Uma cidadezinha bem do interior, rural, e na altura contava com 92 comunidades num território semelhante a toda a extensão da minha região, o Minho. Nos primeiros meses atribuíram-me a responsabilidade de acompanhar alguns jovens que se preparavam para ingressar no seminário. Daí a assumir também os desafios de coordenar, organizar e acompanhar toda a paróquia foi um ‘sopro’. Ainda hoje tenho a certeza de que, se fui pároco em São João Batista em Jaguarari, foi porque os primeiros disseram ‘não’ e, eu, o último, ‘tive’ que dizer ‘sim’. Apraz-me dizer que é motivo de profunda gratidão a Deus e à gente de Jaguarari, por tamanha dádiva que me foi concedida (não a procurei, foi-me dada!) de ter sido pároco de comunidades tão vivas, dinâmicas e com uma sede insaciável de aprender, conhecer e celebrar o Evangelho de Jesus como a que eu encontrei no meio daquela gente.

 

Qual era a realidade da região brasileira onde esteve em missão?

Portugal cabe cinco vezes dentro do Estado da Bahia! É normal, por conseguinte, que as dimensões que assumem os problemas, as dificuldades e os desafios sejam assinaláveis. O que quer que se faça é sempre pouco ou quase nada para exorcizar as dificuldades e solucionar os problemas. Até há pouco tempo, os poderes ignoraram olimpicamente esta parte do território brasileiro. De há uns anos para cá, porém, quase como por milagre, as atenções viraram-se para o paradisíaco nordeste do Brasil. Os motivos são vários. Por um lado, lugares lindíssimos e gente alegre e acolhedora fezem o turismo intensificar-se. Por outro, a descoberta de jazidas de minerais preciosos e de condições especialíssimas para a produção de vinho levaram multinacionais para aquele território. No campo religioso, os interesses pelo pobre povo nordestino também explodiram repentinamente, e a chegada de toda a espécie de seitas e de igrejas evangélicas, que não têm nada a ver com o Evangelho de Jesus de Nazaré, tem sido simplesmente assustadora. A lista de dificuldades já era numerosa antes da ‘descoberta’ do nordeste por parte de turistas, empresários e pastores, e agora a situação piorou.

 

Quais são as recordações mais belas que tem da sua vida missionária?

As recordações mais bonitas que a vida missionária me deu, e continua a dar-me, são as pessoas. Não há presente mais valioso que tornar-se presença na vida de alguém. Não foi isso que fez Deus ao enviar para junto de nós o seu filho Jesus? Ser presença. Aqui está o que dá sabor à vida: ser presente com a nossa presença! Ao longo destes 25 anos de sacerdote, saltando de um aldo para o outro, a minha preocupação e o meu anseio imediato não era fazer isto ou fazer aquilo, mas, em primeiríssimo lugar, encontrar as pessoas, estar junto delas e fazer caminho com elas. Por isso os tesouros mais deslumbrantes que a vida missionária me ofereceu são nomes… São minhas irmãs e meus irmãos, são minha família.

 

Em que consiste o seu trabalho missionário atualmente?

Neste momento faço o acompanhamento pastoral e paroquial em três comunidades do arciprestado de Guimarães/Vizela, da arquidiocese de Braga, são: Gémeos, Calvos e Serzedo. Não é a primeira vez que me encontro na situação de ter que iniciar um novo itinerário com comunidades a mim confiadas. Sempre que tal acontece, o maior desafio, para mim, é aquele que uma Igreja verdadeiramente sinodal enfrenta inevitavelmente, desde sempre e para sempre: ser a Igreja da escuta. O desafio é criar práticas de escuta, de diálogo. A escuta implica reciprocidade, onde cada um tem sempre algo a aprender.

 

O que significam os 25 anos de sacerdócio para si?

Estar e trabalhar na única Igreja que Jesus deixou é de arrepiar. Como Jesus confiou nos 12 que chamou, e estes nem eram perfeitos, creio que hoje continua a confiar naqueles e naquelas que lhe dizem ‘Sim’ com alegria e generosidade.

Padre Domingos considera que os seus dois anos em Moçambique foram um “farol” para a sua vida