Aos 25 anos de idade Tobias Oliveira disse «sim» ao sacerdócio. Agora, 50 anos depois, o missionário da Consolata faz um balanço do seu percurso sacerdotal, que contou com 22 anos passados no Quénia, igual período em Portugal, e seis anos em Itália. «A vida valeu a pena e ainda vale. Vale a pena ser quem sou, vale a pena viver, trabalhar, servir, agir, ser útil. Não existe só o trabalho que produz frutos. Também existe o trabalho que faz ver o significado do ser, da pessoa», demonstrou o sacerdote, natural da freguesia da Fundada, no concelho de Vila de Rei.
Outra das circunstâncias de vida que Tobias Oliveira afirmou ter valido a pena, foi o facto de por vezes se ter sentido um «hóspede em terra estranha», na altura em que esteve no Quénia. «Cheguei a viver numa paróquia fora da cidade de Nairobi, onde eu era quase o único branco. Dizia cá para mim: `És uma mosca branca no meio de todo este enxame´», recorda o sacerdote.
Do período que passou no continente africano, Tobias lembra que sempre se sentiu «em casa», o que muito contribuiu para ter gostado dessa fase da sua vida. «Ninguém me incomodou, ninguém disse que eu estava fora do lugar, ou que o lugar dos brancos era na Europa. Sentia-me parte dessa comunidade. Posso dizer isso com tranquilidade. Nunca me senti estrangeiro ou mal tratado, e isso acho que é uma coisa bela porque nós somos missionários, mas ao mesmo tempo, somos brancos, e dos brancos eles não têm só memórias positivas. Têm muitas negativas», lamenta o sacerdote.
Recordar os seus tempos em África, e assistir agora, do lado europeu, à perigosa jornada daqueles que deixam o país onde nasceram devido à guerra e às más condições de vida, fazem Tobias Oliveira apelar ao acolhimento. «É preciso abrir o coração, aceitar e ser útil o mais possível às pessoas» que fogem da guerra na Síria, defende o religioso, acrescentando que perante aqueles que estão em fuga, «a resposta que se deve dar é o acolhimento». «É acolher quem anda disperso, aqueles que fogem das suas terras», realça.
É esta mensagem de misericórdia, solidariedade e caridade que tem marcado a vida do missionário. A comemoração dos seus 50 anos de sacerdócio fizeram-no regressar à terra onde nasceu e cresceu. Por lá, ao longo dos últimos dias, visitou escolas, lares, centros de catequese, celebrou uma Eucaristia, encontrou-se com quem não via há muito, conviveu e manifestou a sua gratidão a todos quantos marcaram o seu percurso de vida.
«A Igreja não é para nós um campo de futebol, não é uma associação, é um povo, e é um povo que Deus visitou e continua a visitar também, neste caso, com alguns sinais especiais. Visitou este povo há 400 anos, quando nestas colinas e vales nasceu uma paróquia, uma igreja, uma fonte batismal, um povo santo, que se reúne e aqui louva o Senhor constantemente. Foi entre este povo que se desenvolveu, nasceu e cresceu a minha vocação sacerdotal e missionária», explicou o sacerdote na Missa que concelebrou na Igreja Paroquial da Fundada, no último domingo, 28 de outubro.
O regresso do missionário à sua terra natal foi motivo de grande entusiasmo entre a população local, conforme destacou João Pires, pároco local. «O facto do padre Tobias ter vindo aqui celebrar as suas bodas de ouro sacerdotais foi uma lufada de ar fresco para esta terra. As pessoas entusiasmaram-se, encheram-se de brios. Isto veio despertar um bocadinho o desejo da missão e o sentido de fazer missão. A Fundada e Vila de Rei usufruíram desta presença missionária. A presença de padres missionários é uma mais valia para que as pessoas possam viver mais intensamente a dimensão missionária da Igreja. Procurei envolver as pessoas. Foi muito significativa a visita aos lares, às escolas, às catequeses», frisou o responsável.
João Pires acredita a celebração da vida de entrega do padre Tobias assume uma grande importância para a comunidade local. «Isto vem animar ainda mais a paróquia, onde senti um grande espírito de colaboração, de entreajuda e de aproximação. As pessoas estão adormecidas, a nossa Igreja está adormecida para esta dimensão, e iniciativas como esta são muito importantes. Foi muito bom e veio abrir um leque maior à Igreja, a não se fechar», destacou.