11 de agosto de 2024
1 Re 19, 4-8; Ef 4, 30-5, 2; Jo 6, 41-51
“O antídoto para não morrer”
A liturgia do 19º Domingo Comum, através do cap. VIº do Evangelho de São João, continua a instruir-nos sobre o Pão da Vida. A vida eterna a que todos aspiramos e desejamos depende da fé em Cristo, de uma confiança e de um empenhamento constantes, que nos dão a possibilidade de começar a vida-ressurreição já aqui e agora. Na expectativa da ressurreição final, os corpos nutrem-se do Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, que constitui uma “reserva” de vida imortal. Se Elias ou os Hebreus do Êxodo comeram um pão precioso, muito mais precioso é o Pão com que nós nos alimentamos.
1. A eucaristia não é só o sacramento da ressurreição do Senhor crucificado. É também o sacramento da nossa própria ressurreição. É a mensagem central do Evangelho deste domingo: “Eu sou o Pão vivo descido do Céu. Quem dele comer viverá para sempre”. A eucaristia é um pão celeste, espiritual que nutre a nossa vida divina. Faz-nos viver de Jesus e gera-nos para a vida eterna. Não nos alheia da história humana, mas faz-nos caminhar no tempo como pessoas já ressuscitadas, embora não ainda dotadas de um “corpo espiritual”.
Já os primeiros cristãos decantavam a eucaristia como “o antídoto para não morrer”, nas palavras de Santo Inácio de Antioquia. É verdade que a eucaristia não nos impede de morrer e ser sepultados fisicamente, mas opera em nós aquilo que se opera na consagração do pão: uma transformação radical. É uma morte em Cristo que se transforma em novo nascimento. Projeta-nos para a ressurreição de Cristo e faz-nos participar da sua vida imortal.
2. São coisas estupendas que deveriam mexer com a nossa vida presente. Lembremos o que nos disse São Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto”. Não se trata dos astros ou asteroides perdidos no espaço. As coisas do alto são os valores mais altos que Cristo veio ensinar com a palavra e o exemplo, aqueles valores que estão acima de qualquer outro valor: a verdade, a bondade, a justiça, a fraternidade, a liberdade. São valores que enchem a vida e são já penhor de uma outra vida sem fim.
3. Na eucaristia assimilamos a própria vida de Cristo. Tal como aconteceu em Jesus, a nossa humanidade enche-se do Espírito de Deus e tornamo-nos assim uma resposta de amor à fome de vida de tantos nossos irmãos. Mas para isso é preciso ter fé. “Quem acredita, tem a vida eterna”, diz-nos o Evangelho deste domingo. Se assim é, não se compreende a cara de enterro com que algumas pessoas saem da Igreja após a missa dominical. Não é possível, porque nos encontrámos com o Ressuscitado que nos deu o seu pão em alimento “para que não morra quem dele comer”. Comunicou-nos uma vida que dura para sempre. É o alimento do nosso caminho para uma vida sem fim.
“Quero caminhar contigo, Senhor, alimentado pelo Pão que nos dás. Guia a tua Igreja peregrina no mundo, sustém-na com a força do alimento que não perece, para que, perseverando na fé, contemple um dia a luz do teu rosto”.
Darci Vilarinho