Liturgia da Ascensão do Senhor – Ano B

12 de maio de 2024
At 1, 1-11; Ef 4, 1-13; Mc 16, 15-20

 

Terra e Céu interligados
1. Festa da Ascensão do Senhor. Sobe aos Céus o nosso Redentor. Elevado na cruz, elevado na glória. Que significa dizer que Jesus subiu ao Céu? A resposta está no próprio Evangelho: “Foi elevado ao Céu e sentou-se à direita de Deus”. Jesus não entra num “lugar”, mas numa “dimensão” nova, onde já não têm sentido as nossas expressões “em cima” “debaixo”, “diante” ou “atrás”. Ir para o céu significa ir para Deus, entrar em Deus. Estar no Céu significa estar junto de Deus, permanecer n’Ele para sempre. A ressurreição e exaltação de Cristo preenche todos os vazios da nossa terra. Terra e Céu ficam ligados entre si. “Eu vos levarei comigo para que, onde Eu estiver, estejais vós também”, assegurou-nos Jesus.

 

2. O Céu é, portanto, o Corpo de Cristo ressuscitado com o qual se encontrarão todos os salvados. O Paraíso é o seio da Santíssima Trindade que nos gerou e que a todos nos acolherá um dia. Onde está a Cabeça aí estarão os membros. Somos todos chamados a entrar nessa Trindade Santíssima, onde Jesus retomou o esplendor da sua divindade. Junto do Pai, qual Sacerdote eterno e único mediador entre Deus e os homens, Cristo intercede por nós. Cumpre-se a sua promessa de nos introduzir a todos no seio da Santíssima Trindade. Com Cristo, vai toda a nossa humanidade, por Ele redimida e reconciliada com o Pai. “Na casa do meu Pai há muitas moradas”. Há um lugar para cada um de nós. “Quero que onde Eu estou, estejais vós também comigo”. Se formos, de verdade, seus discípulos, temos um “lugar” assegurado junto do Pai. Que dignidade extraordinária!

 

3. “Ide! Proclamai o Evangelho a toda a criatura”. Mas por agora estamos no tempo do “Ide e anunciai”. Somos enviados a continuar a sua obra. A Igreja existe para comunicar o Evangelho, promover ascensões e levar a humanidade à plenitude do conhecimento de Deus. Uma “Igreja em saída”, como lhe chama o Papa Francisco. Ide, quer dizer sair da própria comodidade, deixar de pensar unicamente na sua própria salvação, no seu bem-estar pessoal e dispor-se a partir, se necessário, para outros realidades, até para outros países, para anunciar Jesus.
Jesus envia-nos, acompanha-nos e encoraja-nos na caminhada para que a sua obra continue até ao fim dos tempos. Não somos voluntários espontâneos. Somos enviados por Ele com a missão especialíssima de testemunhar a sua ressurreição e convocar toda a gente para o seu Reino. “Ide e proclamai” as realidades que vos ensinei, diz-nos Jesus. Proclamai a minha Palavra, repeti os meus gestos. Anunciai com a vossa fé e com toda a vossa vida que Deus é amor e mais não quer senão que o amor se difunda e incendeie toda a humanidade. Ele é a nossa esperança.

 

4. A espiritualidade da ascensão transforma-se numa “espiritualidade da missão”: “Porque estais a olhar para o Céu?” Os apóstolos não podem ficar de olhar especado no Céu. Porque o Céu é Jesus que se manifesta hoje em cada pessoa que vive a meu lado, templo e morada de Deus tal como eu sou. Porque o Céu é uma realidade que Jesus nos manda construir todos os dias nos nossos ambientes. Temos o Céu dentro de nós. Podemos fazer o Céu fora de nós. «A Ascensão não é um percurso cósmico, mas é a navegação do coração que te conduz do fechar-te em ti ao amor que abraça o universo» (Bento XVI). Não basta anunciar o Evangelho nos nossos “cenáculos”, mas há que sair para a praça pública. Há campos imensos onde ainda não entrou a luz deste Deus que nos quer elevar até Ele.

 

Darci Vilarinho