Leia a mensagem de Páscoa que o superior geral dos Missionário da Consolata, padre James Lengarin, escreveu à Família Missionária da Consolata.
Estimados missionários, missionárias, leigos da Consolata, familiares, e todos vós amigos e benfeitores,
Nas celebrações litúrgicas do Natal e da Páscoa ressoa um anúncio que deve ser transmitido a todo o mundo. No Natal são os pastores que, “tendo visto o menino”, se põem logo a caminho para contar a todos “o que lhes tinha sido dito” (Lc 2,17); e na Páscoa é Maria Madalena que, depois de reconhecer o “seu Senhor” ressuscitado, corre a anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor”, e transmite também o que Ele lhe disse. (Jo 20,18)
Se a Páscoa é a festa mais importante para todos os cristãos, é-o ainda mais para nós missionários, chamados a “partir sem demora”, por nossa vez, para anunciar ao mundo a vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas, da esperança sobre o desânimo, da libertação de todas as formas de escravidão.
A Páscoa é o mistério de onde parte e no qual se funda toda a nossa fé; de facto, fé e ressurreição estão indissociavelmente ligadas, como afirma São Paulo: “se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé”. (1Cor 15,14)
Caríssimos e caríssimas, o Senhor ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, aleluia. Proclamemo-lo também com força e entusiasmo nós que somos consagrados para a missão ad gentes, enviados a testemunhar com a vida esta grande e alegre notícia aos homens e mulheres do nosso tempo. O Beato Allamano, nosso Pai Fundador, estava convencido que “a vocação missionária pertence àqueles que amam muito o Senhor e anseiam por torná-lo conhecido e amado, e estão dispostos a fazer todos os sacrifícios para alcançar esse nobre objetivo… É preciso fogo para ser apóstolo. Se não somos nem quentes nem frios, nunca conseguiremos nada… Nós, missionários, somos chamados a dar a vida pela salvação das almas. Amar o próximo mais do que a si mesmo deve ser o programa de vida do missionário”. Caso contrário, “ter-se-á o nome, mas não a substância do missionário” (VS [edição italiana], pp. 460-461).
Por isso, nunca como hoje, a exortação do nosso Fundador a “ser superlativos… a ser extraordinários no ordinário e a dar sempre mais na nossa vida” é um grande estímulo para testemunhar a Páscoa com autenticidade. A perfeição espiritual, “aplica-se ainda mais àqueles que se dedicam à Missão… e deve ser especial, heroica, extraordinária e, até mesmo, por vezes, extraordinária ao ponto de fazer milagres… Não basta uma santidade medíocre, é preciso uma santidade grande, maior do que a dos simples cristãos, superior à dos religiosos, mais distinta do que a dos sacerdotes seculares” (VS, p. 125).
Caríssimas e caríssimos, partilho convosco, neste dia da Páscoa do Senhor, duas recomendações a ter sempre presentes para viver plenamente a nossa missão hoje.
Em primeiro lugar, se nos deixarmos dominar apenas pela escuridão das nossas fragilidades e desilusões, nunca poderemos acolher e deixar-nos transformar pelo poder curativo da Palavra do Senhor Ressuscitado. As preocupações tornar-nos-iam incapazes de a escutar, e o nosso individualismo sufocaria a nossa capacidade de cuidar dos outros. A Ressurreição diz-nos que Deus se manifesta sempre e em todo o caso; nós é que andamos apáticos, envolvidos em tantas coisas, a ponto de não O reconhecermos na vida, nos irmãos e, sobretudo, nos mais necessitados (cf. Mt 25,31-46)!
Em segundo lugar, cada um de nós passou a fazer parte da comunidade do Instituto através da profissão dos votos religiosos. O Ressuscitado vive connosco, manifesta-se a cada momento na nossa vida pessoal, e é à volta d’Ele, com Ele ao centro, que se constrói a vida fraterna e a pertença uns aos outros. Mas se não passarmos tempo com Ele, se não O invocarmos na oração, se não nos ajoelharmos assiduamente diante do Santíssimo Sacramento, os outros tornar-se-ão estranhos para nós, pedras de tropeço para os nossos objetivos, e assim a fraternidade desmoronar-se-á.
Caríssimos missionários, faço minhas as palavras do Papa Francisco para vos transmitir a minha certeza de que “a Sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou no mundo. Onde parecia que tudo tinha morrido, voltaram a aparecer por todo o lado rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não abrandam. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto. Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. Os valores tendem sempre a reaparecer sob novas formas, e na realidade o ser humano renasceu muitas vezes de situações que pareciam irreversíveis. Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo”. (Evangelii Gaudium 276)
Sim, rezo para que também nós nos tornemos instrumentos do dinamismo da ressurreição, para traçarmos novos caminhos no nosso empenho missionário, na entrega total aos outros, e sobretudo para sermos esperança para os desiludidos, bússola para os perdidos e consolação para os desesperados.
Ao agradecer-vos pelo vosso incansável esforço, peço ao Senhor Ressuscitado que dê coragem a vós, aos vossos entes queridos e às vossas comunidades com abundantes bênçãos e que vos conceda paz e alegria na vossa vocação. E que, sobretudo nos momentos de desânimo, vos guie a certeza de que “Cristo venceu a morte”. Sede um farol de luz que difunde no mundo a vitória da vida sobre a morte e a compaixão de Deus.
A Páscoa vem recordar a cada um de nós, a cada comunidade, às Circunscrições e a todo o Instituto que o único modo de ressuscitar, de vencer a morte, é gastar a vida pelos outros, amando e aceitando ser amados em cada momento e circunstância da vida.
Desejo-vos uma Santa Páscoa, abençoada pela graça do Senhor, cheia de esperança, de amor e de ânsia de ressurreição. Aleluia, Aleluia!
P James Lengarin, padre geral imc