Liturgia do 6º Domingo Comum – Ano B

11 de fevereiro de 2024
Lev 13, 1-2.45-46; 1Cor 10, 31-11, 1; Mc 1, 40-45

 

“Se quiseres, podes curar-me”
1. Há já vários domingos que S. Marcos nos apresenta o contato de Jesus com os doentes e o seu combate contra toda a espécie de mal. Foi a libertação de um homem de um espírito impuro, foi a sogra de Pedro e de tantas outras pessoas atormentadas por várias enfermidades. Jesus luta e vence o mal onde quer que ele se aninhe para restituir ao homem a sua dignidade e liberdade. Quantas e quantas pessoas se encontram ainda nos nossos hospitais, esperando a cura dos seus males, que tanto as afligem!…
A guerra é a mais terrível das doenças, diz o Papa Francisco na sua mensagem para o
Dia Mundial do doente que hoje mesmo se celebra: “Associo-me, pesaroso, à condição de sofrimento e solidão de quantos, por causa da guerra e suas trágicas consequências, se encontram sem apoio nem assistência: a guerra é a mais terrível das doenças sociais e as pessoas mais frágeis pagam-lhe o preço mais alto”.

 

2. No Evangelho deste Domingo, o doente é um pobre leproso que, por determinação legal, tinha que viver à parte, longe das pessoas e considerar-se “impuro”. As sanções – escritas no Livro do Levítico – eram terríveis. No fundo, o doente atingido pela lepra era um condenado à morte civil e religiosa, porque se tratava de uma impureza legal que impedia o leproso do seu convívio com os outros. Mas Jesus, revolucionando essa situação, manifesta-se claramente contra essa marginalização e exclusão. Sem medo do contágio, toca e deixa-se tocar pelo leproso. A doença para Jesus deixa de ser separação para se tornar lugar de encontro com Deus.

 

3. Diz o Evangelho que, diante do pedido humilde e sincero do leproso: “Se quiseres, podes curar-me”; Jesus estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo»”. O gesto de “estender a mão” recorda-nos a ação de Deus que, movido de compaixão pelo seu povo, escravo no Egipto, realizou os prodígios do êxodo “com mão forte e braço estendido”. Mas a mão de Jesus não fica distante. É uma mão sempre libertadora. Não levanta barreiras entre Ele e o doente. Toca as chagas do leproso. Expõe-se fisicamente ao contágio dos nossos males. O mal torna-se o ponto de contato: Jesus recebe de nós a nossa humanidade doente; nós recebemos dele a sua humanidade sadia. Jesus assumiu a nossa natureza ferida para a curar por dentro. “Se quiseres, Senhor, podes curar-nos…”

 

4. Mais do que as físicas são hoje as lepras morais que abundam no nosso mundo. São as marginalizações a que tantas pessoas são votadas. É a exclusão de pessoas do nosso convívio. Jesus mostra-nos o caminho da dignificação de todos, sem nenhuma exclusão. O leproso foi reintegrado na sociedade, mas Jesus é obrigado a viver fora, em lugares desertos. Acaba por encontrar-se Ele na situação do leproso. É o preço que Jesus terá que pagar para nos reinserir a todos na família de Deus. Fez-se leproso com os leprosos para nos salvar e libertar.

 

5. Diante desta doença que durante muito tempo se considerava incurável, não podemos esquecer aqueles que se distinguiram na luta contra a lepra no mundo. A começar pela grande figura de Raoul Follereau que dedicou tantos dos seus anos a esta causa maravilhosa. E a terminar na magnífica figura do padre Damião, o herói de Molokai, que se ofereceu para viver nessa ilha “maldita” pejada de doentes da lepra. Ajudou a organizar a comunidade dos leprosos garantindo-lhes a dignidade a que tinham direito. Partilhou em tudo a vida desses excluídos, vindo a morrer leproso também ele no meio dos seus amigos leprosos. A vida adquire o seu maior significado quando, à imitação de Jesus, é doada aos mais esquecidos deste mundo por amor a Jesus e ao seu Reino.

 

Darci Vilarinho