4 de fevereiro de 2024
Job 7, 1-7; 1 Cor 9, 16-23; Mc 1, 29-39
Proximidade e compaixão
1. A Palavra de Deus do 5º Domingo comum mostra-nos a relação de Jesus com o sofrimento humano. Jesus manifesta um coração sensível perante a dor que nos aflige. A cura da sogra de Pedro, e de tantos outros doentes à porta da sua casa, confirma-nos essa atenção especial para com as pessoas que sofrem. É interessante notar que uma terça parte do Evangelho de Marcos fala-nos de Jesus em contacto com os doentes. Ele é o médico das almas e dos corpos. Aproxima-se deles, acolhe os seus pedidos, cura os seus males. Leprosos, cegos ou paralíticos experimentaram a sua ternura e compaixão.
2. Ainda hoje, há uma grande porção da humanidade que grita a sua dor causada pelas guerras, pela violência, pela injustiça, pela miséria, pela exclusão, pela marginalização, por doenças estranhas e situações pandémicas que nos assustam. Aquilo que os nossos profissionais de saúde e tantos outros cuidadores fazem hoje para ajudar as pessoas a superarem os seus males é o que Jesus faria. Toda a solidariedade humana é pouca para enfrentar estas situações. Jesus passava de aldeia em aldeia não só para pregar a Palavra do Pai, mas também para curar e libertar do poder do mal. É um sinal claro de que evangelização e libertação das pessoas caminham lado a lado no projeto de Jesus. Ninguém pode contestar o serviço da Igreja neste importante sector no passado e no presente, como prolongamento da missão de Cristo Salvador.
3. Mas há um aspeto singular no Evangelho deste domingo, que não pode passar despercebido. Depois de uma longa jornada de serviço às pessoas doentes, “de manhã, muito cedo, Jesus levantou-se e saiu. Retirou-se para um sítio ermo e aí começou a orar”. Se Jesus se retira para um lugar deserto, diz um comentador, não é para fugir do mundo, mas para falar do mundo a seu Pai.
É esse o convite que Jesus nos faz neste domingo: sermos próximos de quem sofre, estendendo as mãos aos nossos irmãos em humanidade e, ao mesmo tempo, erguer os olhos para Deus na oração. Se é verdade que há tantos doentes a curar e o sofrimento é um oceano inesgotável, Jesus quer ensinar-nos que os seus milagres são sinais que apontam para outra realidade não menos importante: a sua vitória sobre o único mal que pode verdadeiramente matar os homens: o pecado, a recusa do amor. Esse é o vírus mais violento que destrói as nossas vidas. Foi para isso que o Pai o enviou. Jesus sente que deve alimentar-se desta vontade do Pai, para a cumprir até ao fim. Passar tempo a rezar não é perder o seu tempo. Pelo contrário, é deixar que a vontade do Pai, de quem tudo procede, o invada cada vez mais. Jesus quer fazer compreender aos discípulos de então e de hoje que é preciso que também eles se enraízem cada vez mais profundamente neste amor do Pai para serem solidários com o sofrimento humano.
4. Anunciar o Evangelho passa por aqui, como diz S. Paulo na 2ª leitura: “Fiz-me tudo para todos: com os fracos fiz-me fraco para ganhar os fracos”. Evangelizar é incarnar a mensagem de Jesus e viver como Ele ao lado de cada pessoa, entrando na sua vida e deixando que ela entre na minha. É viver de tal modo unido a todos que nada do que se passa com eles me deixa indiferente. Fazer-se servo de todos, ser totalmente e gratuitamente para todos, como a mãe para os seus filhos. Uma palavra ou um gesto de alívio e de esperança a quem procura, a quem duvida, a quem sofre, a quem passa por uma ocasião difícil, é um modo de testemunhar a nossa fé.
Darci Vilarinho