28 de janeiro de 2024
Deut 18, 15-20; 1 Cor 7, 32-35; Mc 1, 21-28
Com coerência e verdade
1. No Evangelho de São Marcos, que a Liturgia nos oferece para este 4º Domingo do tempo comum, recorre duas vezes a palavra autoridade: “Jesus ensinava com autoridade, e não como os escribas”. “Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade…”. Podemos justamente perguntar: Mas, em que consiste esta autoridade do jovem rabi de Nazaré?
É curioso notar que Marcos liga esta admiração das pessoas por Jesus não àquilo que ensina, mas ao próprio ato de ensinar. As pessoas ficam pasmadas porque Jesus não ensina como os escribas, que eram os mestres, os especialistas ou intérpretes qualificados da Lei. A autoridade de Jesus não era de tipo “profissional”, porque Ele não tinha frequentado as escolas rabínicas de Jerusalém e, portanto, não tinha títulos académicos. E a gente perguntava: “Como é que este conhece as Escrituras, sem ter estudado? Jesus respondeu-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo 7, 15-16).
2. Jesus tem consciência de ser o enviado de Deus e de falar diretamente em seu nome. Não diz como os profetas: “Palavra do Senhor!”, mas fala de própria autoridade, precisamente porque é Ele a Palavra do Senhor. A sua doutrina era sabedoria que vinha do Alto. Jesus falava com autoridade porque Ele vivia o que pregava e pregava o que vivia. Não sofria das esquizofrenias em que muitos de nós caímos. Não havia para Ele divisão entre prática e palavra.
Quem fala com autoridade convence, não pela imposição, mas pela credibilidade que é transmitida. Uma coisa é ter autoridade, outra coisa é ser autoritário. Jesus não era autoritário, porque não impunha nada pela força. Não falava como quem estava “por cima”, com orgulho ou arrogância. A sua palavra procedia de um coração manso e humilde. As suas, eram palavras que libertavam, curavam e consolavam, revelando o rosto misericordioso do Pai: “Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”.
3. Também nós podemos participar dessa autoridade: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra: ide, pois, fazei discípulos de todos os povos….” (Mt 28, 18). A nossa missão mergulha nesta autoridade de Jesus. Mas a Palavra que eu sou chamado a anunciar só terá efeito no coração das pessoas se for proclamada com a mesma autoridade de Jesus. Quer dizer, se for anunciada com o testemunho da minha vida. Também eu sou chamado a viver e, portanto, a falar como Ele. Não se trata de poder ou de domínio. É riqueza interior que de mim passa para fora. É coerência de vida entre o meu falar e o meu agir. Se vivo aquilo que anuncio, falarei com autoridade.
4. Precisamos todos desta coerência e autoridade nas nossas vidas. Também João o dizia na sua primeira carta: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade” (1 Jo 3, 18)”. Com obras e verdade! O mundo precisa disto. Precisa de pessoas coerentes e verdadeiras na sociedade, na política, na economia, na religião. O que vale não são as palavras, mesmo bonitas, mas sim o testemunho que dá vida e autoridade às palavras que saem da nossa boca. Só isso conquista, chama e converte. Que o Senhor infunda em nós o seu Espírito de sabedoria para que em palavras e obras possamos proclamar a sua vida com coerência e verdade.
Darci Vilarinho