Liturgia do 27º Domingo Comum – Ano C

2 de outubro 2022
Hab 1, 2-3; 2, 2-4; 2Tim 1, 6-14; Lc 17, 5-10

 

A medida da nossa Fé
1.”Se tivésseis fé como um grão de mostarda…”, diz-nos Jesus no Evangelho deste 27º Domingo Comum. O que é que nos aconteceria? Só Deus sabe. A fé não é uma realidade que se possa medir quantitativamente. É uma força prodigiosa de transformação e irradiação que nos vem de Deus. Tal como a minúscula semente da mostarda, com uma vitalidade incrível, a fé transforma completamente o coração humano, provocando uma maneira nova de pensar, de perceber e de amar. A fé é uma escolha total de Deus. É o reino de Deus dentro de nós. Leva-nos a apoiar-nos exclusivamente nele e a fiar-nos inteiramente dele.

 

2. As obras da fé – Assim entendida e vivida, a fé gera dentro de nós coisas humanamente inexplicáveis. Produz corações enamorados de Deus e apaixonados pela humanidade. Leia-se com os olhos da fé a vida de um S. Francisco de Assis, que celebraremos daqui a dias, e para quem Deus se tornou uma divina obsessão. Entender-se-á a revolução que ele operou na Igreja e na sociedade.
Leia-se com os olhos da fé a vida da Madre Teresa de Calcutá feita de inúmeros gestos de caridade que contagiavam os mais pobres. Uma fé – soube-se agora – sofrida até aos últimos dias, porque Deus se esconde sobretudo àqueles que mais ama. Foi uma fé que a tornou capaz de aceitar serenamente o silêncio de Deus e a sua aparente ausência e indiferença. “Jesus tem um amor muito especial por si – escrevia ela a um sacerdote – mas, para mim, o silêncio e o vazio é tão grande que olho e não vejo, escuto mas não ouço. A língua mexe-se (na oração), mas não fala… Quero que reze por mim”. A sua fé revelava-se no amor concreto aos mais abandonados: “Deus tornou-se o faminto, o nu e o sem-abrigo. A fome de Jesus é aquilo que temos de encontrar e aliviar. Cristo está nos nossos corações, Cristo é o pobre que encontramos, o sorriso que damos e recebemos”.
Leia-se aos olhos da fé a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus que neste mês recordamos como a grande padroeira das Missões. Foi uma alma cândida, toda ardente de amor por Cristo, mas provada também ela por uma grande escuridão, como refere na sua autobiografia: “Deus permitiu que a minha alma fosse invadida pelas mais densas trevas e que a ideia do Céu, tão suave para mim, não passasse de tema de combate e tortura… Essa provação não devia durar apenas alguns dias, algumas semanas, só devia desaparecer na hora marcada por Deus e… essa hora ainda não chegou…”.

 

3. “Aumenta a nossa fé”, pedimos nós, com os apóstolos de Jesus, perdidos num mundo onde reina o eclipse de Deus. Um eclipse que está para durar e que pode porventura gelar as nossas relações e causar à nossa volta o frio, o medo e a aridez. É o mais grave problema do nosso tempo. Precisamos do calor do Sol que faça cantar o mundo e gere novas relações.
A fé é um dom. Um dom gracioso de Deus que vem inesperadamente, ninguém sabe como. “Não é um meio de que nos servimos para obter qualquer coisa. É uma realidade bem mais humilde, uma simples confiança, sempre cheia de espanto: sem que eu tenha obedecido a nenhuma condição, Deus restabelece-me na sua amizade”, dizia o Irmão Roger. Mas é dinamismo, é ação. Convoca-nos sempre para fora de nós. É radicalmente missionária. Nunca nos agrilhoa a nada. Se a conservo só para mim, ela desaparece. Se a difundir, ela cresce dentro de mim e à minha volta. Disse-o São João Paulo II na sua encíclica sobre a Missão: “A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! (…) A missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e do Seu amor por nós”. Seremos nós capazes de a testemunhar no serviço aos irmãos e no louvor a Deus?

 

Darci Vilarinho