25 de setembro de 2022
Am 6, 1-7; 1Tim 2, 11-16; Luc 16, 19-31
A riqueza que fecha o coração
Os textos da liturgia eucarística deste Domingo são ainda uma denúncia contra a riqueza. No Domingo passado os textos falavam da riqueza acumulada roubando e aldrabando. O argumento de hoje é a riqueza que é injusta quando cega o homem e o torna insensível diante do próximo. Leva-o a fechar-se em si próprio, a pensar exclusivamente nos próprios interesses e na satisfação dos seus caprichos, como se a vida não tivesse outro horizonte para além do temporal.
1. É antes de mais o profeta Amós que clama e denuncia: “Ai daqueles que vivem comodamente… Vestidos de púrpura e linho fino, deitados em leitos de marfim…”. Nesta sociedade de consumo e de festas, onde os contrastes e as injustiças gritam aos céus, também há disto. Uns pagam a crise provocada pela guerra, os outros vivem em delícias. Não. Os caminhos de Deus não passam por aqui. Com a parábola do homem rico e do pobre Lázaro, Jesus quer ensinar que o plano de Deus para a família humana não aceita estas desigualdades escandalosas. O rico da parábola é condenado não por ser rico, mas porque vivia fechado no seu mundo e não aceitava a lógica da partilha dos bens. “Jesus quer que os seus discípulos compreendam que a existência, neste mundo, de duas classes de pessoas – os ricos e os pobres – é contra o projeto de Deus. Os bens são dados para todos e quem mais tem mais deve partilhar com quem tem menos” (F. Armellini).
2. S. Ambrósio dizia assim: “Quando dás alguma coisa ao pobre, não lhe ofereces o que é teu, mas restituis-lhe simplesmente o que já é seu, porque a terra e os bens são de todos, não dos ricos”. A solidariedade cristã, tão apregoada por todos os últimos Papas, passa por aqui. Os documentos do seu magistério social têm uma extraordinária força missionária para a transformação do mundo segundo o plano de Deus, tal como nos propõe o Evangelho. Precisamos de políticas alicerçadas em princípios éticos, no uso sóbrio e responsável dos recursos naturais e no respeito da biodiversidade que contribuam para a valorização da pessoa humana. É a pessoa que está em causa, e por isso, dizemos com São João Paulo II, que “é a hora de uma nova ‘fantasia da caridade’, que se manifeste na capacidade de pensar e de ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna”.
3. Relaciona-se com este Evangelho o outro texto no qual São Lucas nos diz claramente que a vida não depende dos bens que alguém possui. “Guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens”. Jesus não despreza os bens da terra. O que ele condena é a ganância. O que ele contesta são os nossos mitos recorrentes: o mito da riqueza como fonte de felicidade, o mito do lucro como regra de vida ou da conta bancária como segurança do amanhã… Não há amanhã para quem vive só para o corpo, não há futuro para quem vive só para as coisas, porque as coisas têm um fundo vazio. O Evangelho termina com o aviso que é necessário escutar a Palavra de Deus para mudar de vida. Está aí a solução que tantos teimam em não querer aceitar.
Darci Vilarinho