Lourenço Brás (Texto) | Ana Paula (fotos), 19 de março 2022
José Brás Tavares Moreira assumiu o seu compromisso presbiteral, como missionário da Consolata, numa celebração que decorreu no sábado, 19 de março, solenidade de São José, na sua paróquia: a Igreja Paroquial de Nossa Senhora Mãe Deus da Buraca, Amadora, por imposição das mãos de Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa. Concelebraram Diamantino Antunes, bispo de Tete, Moçambique, e cerca de três dezenas de sacerdotes, entre os quais o superior regional dos Missionários da Consolata na Europa, padre Gianni Treglia.
São José: Três características a imitar
Na homilia da ordenação, Joaquim Mendes começou por fazer uma ligação entre a solenidade de São José e a ordenação do diácono José Brás, sublinhando a “feliz coincidência” do acontecimento. José é “guardião e padroeiro da Igreja universal e também «protetor especial» do teu Instituto”, lembrou o presidente da celebração. De seguida, Joaquim Mendes identificou três características “que podem inspirar o ministério sacerdotal” que o José Brás vai receber, assim como o dos demais sacerdotes.
Primeira característica: a paternidade – “Uma paternidade discreta, na sombra, que São José assume sem questionar.”. A partir do episódio da “imprevisível gravidez de Maria”, D. Joaquim explica que José “tem a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus e a missão que misteriosamente lhe é confiada de assegurar a sustentabilidade e a segurança de Maria e de Jesus, com a sua presença, com o seu trabalho, com uma disponibilidade sem limites, servindo ao lado de Maria e com Ela, na fé e no silencio, envolto no mistério de Deus”. Em seguida, o presidente da celebração fez uma ligação às nossas possíveis relações familiares: “Quantas memórias de pessoas que foram para nós como um pai, uma mãe, sem constaram na filiação do nosso bilhete de identidade”. E concluiu este primeiro ponto dizendo que São José viveu “uma paternidade que não é exercício de posse, mas dom de si mesmo.”, desafiando o José Brás a colocar-se “inteiramente ao serviço do plano salvífico de Deus, no hoje da história”. Depois, acrescentou: “Uma paternidade que se exprime em fazer da nossa vida um dom total àqueles a quem o Senhor nos envia, testemunhando a paternidade de Deus, a Sua ternura, o Seu amor, a Sua bondade e a Sua misericórdia com a nossa proximidade, o nosso afeto, o nosso serviço, o dom da nossa vida”.
Inspirado na figura de José, “procurar ter um coração de Pai, ungido pela paternidade de Deus, um coração que ama e cuida os filhos e filhas que te forem confiados, especialmente os mais frágeis, os que sofrem, os que não experimentaram o amor paterno. Sê para todos reflexo da paternidade de Deus”, exortou o presidente da celebração, fixando o olhar no José Brás, a ponto de ser ordenado sacerdote.
Segunda característica de José: a Fé – Como segunda característica de São José, Joaquim Mendes aponta a fé. “São José é modelo de uma fé difícil tão necessária em certos momentos da nossa vida e do nosso ministério”. São José obedeceu sem pedir muitas explicações nem garantias: “… é um grande crente, que nos ensina que ter fé em Deus inclui acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza e nas circunstâncias mais adversas da nossa vida”. E referiu as dificuldades próprias da vida missionária: “A vida espiritual e a missão são um caminho aberto às surpresas de Deus, não é um caminho que se explica, mas um caminho que se acolhe e se percorre à luz da fé”. Para tal, “como São José”, é preciso estarmos dispostos a “ir em frente, apesar das dificuldades, dos medos e das fragilidades, acreditando que o Senhor está connosco, e que a missão que realizamos não é nossa, mas dele”, frisou.
Terceira característica: “Guardar, cuidar e servir” – A terceira e última caraterística apontada por este bispo salesiano é “guardar, cuidar e servir”. “São José cuidou com amor de Maria e dedicou-se com empenho à educação de Jesus com discrição, com humildade, no silêncio, com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender”. E com base nesta característica, o bispo presidente da celebração pediu a intercessão de São José para que nos ensine “a exercer hoje esta bela missão de guardiães, a partir de Deus, da sua palavra e da leitura dos acontecimentos. São José ensina-nos a sermos guardiães da criação, a respeitar toda a criatura de Deus e o ambiente em que vivemos, a guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e de cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis”.
Para terminar, o prelado convida o José Brás – primeiro missionário da Consolata nascido em Cabo Verde -, a “não ter medo da bondade e da ternura, de abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher com afeto e ternura a humanidade inteira, especialmente os pobres, os mais fracos, os pequeninos, quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente ou na prisão.” E conclui: “Sejamos guardiães com ele e como ele, servindo, no hoje da história, o plano de salvação de Deus”.
P. Gianni: “Cristo confia em ti!”
Antes do final da celebração, o padre Gianni Treglia, superior regional dos Missionários da Consolata (IMC) na Europa, tomou a palavra e começou por agradecer a Deus o dom do sacerdócio recebido pelo José Brás, e também ao bispo Joaquim Mendes por ter sido “portador” desse dom. Um dom que o é “para toda a Igreja, para o nosso Instituto e para a missão, porque nós somos família missionária”, sublinhou, desafiando o novo sacerdote a assumir a responsabilidade que acaba de receber: “Este dom que hoje recebeste é uma grande responsabilidade que Cristo colocou nas tuas mãos. Cristo confia em ti! … e tu, confiando na força de Cristo, fala como Ele, realiza ações como Ele, vive como Ele mesmo viveu!”, concluiu, escutando-se em seguida um aplauso espontâneo da assembleia de fiéis ali presente.
Na Eucaristia, muito participada e com a igreja cheia, além do presidente da celebração, o bispo Joaquim Mendes, esteve presente também o bispo Diamantino Antunes, bispo de Tete, Moçambique, os padres Gianni Treglia e Bernard Obiero – o superior e conselheiro regional, respetivamente, do IMC na Europa. Concelebraram algumas dezenas de sacerdotes vindos das seis comunidades IMC de norte a sul país, assim como alguns padres diocesanos e de outras congregações. Além da família do neosacerdote, que estava muito emocionada, estiveram presentes muitos amigos e membros da Família Missionária da Consolata (Irmãs da Consolata, LMC, JMC, entre outros).
Da missa para a mesa
A liturgia foi muito marcada pela alegria e pela festa, com música, ritmo e procissão da Palavra dançada. Os cânticos, ao estilo missionário, estavam muito bem ensaiados e foram cantados por um numeroso coro, que incluía membros da comunidade local e também dos Leigos Missionários da Consolata.
Terminada a celebração, e após os cumprimentos da praxe, todos se dirigiram da Paróquia da Buraca para o Bairro do Zambujal, onde lhes esperava um nutritivo almoço preparado pela comunidade, em espaço aberto, na Rua Mães d’Água, junto ao Centro Consolação e Vida (CCV). O CCV, recordemos, é um espaço com capela e outras salas e anexos de apoio à pastoral e à ação social. É uma comunidade que pertence à paróquia da Buraca, mas é pastoralmente gerida pelos Missionários da Consolata residentes naquele bairro social. Depois de um acolhimento festivo do neosacerdote, com muito batuque e danças africanas, a comunidade local ofereceu um substancioso almoço a todos os convivas, e com direito à famosa cachupa, comida típica da comunidade cabo-verdiana.
Antes de partir o bolo, o agora padre José Brás manifestou, visivelmente emocionado, grande satisfação pelo passo dado e pelos sentimentos que está a experimentar, agradecendo a todos pela presença e por o ajudarem a fazer tão especial aquele dia.
A missa nova do padre José Brás, que já está destinado à missão em Moçambique, acontece às 11h de domingo, dia 20, na capela do Centro Consolação e Vida, no Bairro do Zambujal, Amadora.