Liturgia do 5º Domingo Comum – Ano C

6 de fevereiro de 2022
Is 6, 1-8; 1Cor 15, 1-11; Lc 5, 1-11

 

Ele confia em ti
1. “Faz-te ao largo” diz Jesus a Simão Pedro que, juntamente com outros companheiros de profissão, está nas margens do lago a consertar as redes, depois de uma noite de pesca frustrada. Jesus sobe para uma das barcas vazias, introduz-se delicadamente nessa atmosfera de insucesso e pede a Simão que se afaste um pouco da margem, que lance as redes e volte a pescar. Depois de uma breve hesitação e um olhar meio desconfiado, Pedro deixou-se convencer e fez a pesca mais extraordinária da sua vida. A partir desse encontro tudo mudou, e Pedro teve a perceção da imensa distância entre a sua fragilidade e o imenso poder de Deus que se escondia por detrás do rosto luminoso de Jesus de Nazaré. “Afasta-te de mim, Senhor, que sou homem pecador”. Foi assim que iniciou a aventura de Pedro e a nossa.

 

2. Ele sobe para a minha barca – Sim, porque é a mim que o Senhor pede para colaborar com Ele, para pôr a minha vida em jogo, para o ajudar numa missão que só Ele conhece. E pede que lhe empreste a minha barca. A minha e a tua. Deus quer subir para a tua barca, precisa de ti para narrar o Evangelho, precisa da tua disponibilidade para ir mais em profundidade. E isto acontece, repara bem, ao cabo de um dia de trabalho frustrante, sem mérito algum da tua parte. Mas nem sequer isso é suficiente para travar o chamamento de Deus.
No insucesso destes pescadores entrevejo o meu próprio insucesso, as minhas opções erradas, os meus dias inúteis, as minhas repetidas faltas. E apesar disso, Jesus sobe para a minha barca vazia e convida-me a partir de novo, a trabalhar para Ele, a confiar na sua palavra. “Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca”. “Na tua palavra, lançarei as redes”. E o milagre irá acontecer também na tua vida. A proximidade de Deus atemoriza o apóstolo. Como é que posso estar perto de Deus, se sou pecador? Como é que posso anunciar o Evangelho com todos os meus pecados, que vão e voltam, que se repetem? É belíssima a reação de Jesus: não diz que não é verdade, não absolve Simão, não o humilha, mas pronuncia uma só palavra: não tenhas medo! A sua situação de indignidade não é desculpa para afastar Deus da sua vida e para não se empenhar a fundo num futuro diferente.

 

3. Jesus confia em mim – Jesus dá confiança, conforta e fia-se de nós. De hoje em diante, há que mudar de rota. Permanecerás pecador, mas não temas. Serás pescador de homens. E o milagre acontece: não são as barcas cheias de peixe. Nem sequer as barcas abandonadas na praia. O maior milagre é Jesus que acredita em mim, que não se deixa impressionar pela minha fragilidade, que me confia o seu Evangelho. É Deus que me chama, não sou eu que o encontro. É paradoxal, mas é assim mesmo: nós procuramos Aquele que nos procura. É uma espécie de jogo que envolve a nossa liberdade. Deus deseja encontrar-nos, mas nós, indiferentes, tentamos escapar ao seu olhar. Feliz o dia em que os meus olhos se cruzarem com os dele. Feliz o dia em que o meu projeto se identificar com o seu. Creio em Ti, Senhor, porque acreditas em mim. Fio-me de Ti, porque Tu confias em mim. Seguir-te-ei para onde quer que me chames. Como Paulo, Francisco Xavier, Charles de Foucauld, José Allamano e todos aqueles que, fiados na Palavra do Senhor, lançaram as redes. E a pesca foi sempre abundante.

 

Darci Vilarinho