At 10, 37-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9
“Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto… Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”, pede-nos São Paulo. Na Páscoa de Cristo celebro a minha própria Páscoa. Deixo as ligaduras do homem velho para viver à imagem do homem novo. Abro a porta da minha casa ao Ressuscitado para que Ele entre, deixe a sua paz e me envie em espírito de Missão. Dado que a Páscoa é passagem da morte à vida, do egoísmo à solidariedade, do homem velho ao homem novo, se ainda estamos demasiado agarrados a nós próprios, ela será uma ocasião para nos libertarmos das nossas próprias ligaduras, das amarras do pecado, para colocar a nossa vida ao serviço uns dos outros tal como fez o nosso Mestre.
Quais os frutos da Páscoa?
Quero ser otimista. Olho para o mundo e vejo imensos frutos da Páscoa. Sobretudo durante esta pandemia, vejo gestos de bem-fazer, vejo generosidade sem limites, vejo ternura que brota de corações amigos, vejo sementes de fraternidade e tantos gestos de paz. Ele está vivo! São frutos da Páscoa de Cristo que poderemos fazer germinar por esse mundo fora. A paz, sobretudo, é uma enorme prenda da Páscoa. É uma dádiva do Ressuscitado. É Ele que nos dá a sua Paz: a paz do coração, a absoluta certeza de sermos por Ele amados e perdoados e, portanto, de poder amar e perdoar, naquela harmonia profunda que só Deus nos pode conceder. Podemos ficar perturbados por cenas horrorosas e inquietantes de conflitos, guerras, pandemias e morte. Abalados porventura na nossa própria fé, mas confiantes e consolados pela mensagem deixada aos Apóstolos e a cada um de nós: “A Paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também Eu vos envio”. A fazer o quê? A suscitar neste mundo um outro modo de viver, a infundir coragem e esperança, a anunciar e testemunhar essa paz profunda dos corações que transforma sofrimentos, medos ou desilusões. A levar o perdão e a reconciliação de que o mundo tanto precisa. É para isso que somos missionários de Jesus ressuscitado. Queremos ser a Páscoa do nosso mundo.
De alegria estampada no rosto
O que é isso de ser a Páscoa do mundo? É, antes de mais, fazer com que Cristo viva no meio de nós através do nosso amor mútuo que gera a sua presença e faz crescer o nosso relacionamento. É imitar esse modo de viver que nos transmitiram as primeiras comunidades cristãs de que nos falam os Atos dos Apóstolos: “Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo”.
Que fruto maravilhoso da Páscoa e que modelo de comunidade! A Igreja é a comunidade dos que acreditam em Cristo Ressuscitado, dos que seguem o seu estilo de vida e que por isso gozam da sua presença. Quem vive assim há de forçosamente dar frutos que se exprimem na comunhão de bens e de ideais e na consequente vida fraterna. De alegria estampada no rosto os primeiros cristãos atraíam outros para a vida da comunidade. E a Igreja crescia em amor e louvor. Era uma vida que falava. Era uma fé que arrastava. Não há outro caminho para fazer crescer as nossas comunidades de vida e de fé.
Darci Vilarinho