Ez 33, 7-9; Rom 13, 8-10; Mt 18, 15-20
1. Somos responsáveis uns pelos outros.
Nunca podemos dizer que já amamos o suficiente. Podemos, todos os dias, praticar gestos de partilha, de acolhimento, de reconciliação, de perdão, mas temos que ir sempre mais além. Há sempre mais um gesto de solidariedade que podemos fazer, um sorriso que podemos oferecer, uma palavra de esperança que podemos depositar no coração de alguém. O amor fraterno é uma dívida que nunca estará completamente saldada.
2. O Evangelho deste domingo diz-nos precisamente que amar alguém é não ficar indiferente quando ele está a fazer mal a si próprio ou à comunidade. Por isso é preciso saber corrigir, admoestar, questionar. É necessário ir ao encontro do irmão que falhou e repreendê-lo a sós. Há que evitar publicitar os erros e as falhas dos outros. Denunciar publicamente o erro do irmão pode significar destruir-lhe a credibilidade e o bom-nome e estragar as relações familiares e a confiança dos amigos. Nunca se deve julgar ninguém na praça pública. Todos têm o direito de se defender. Humilhar o irmão publicamente é, sobretudo, uma grave falta contra o amor. É por isso que o Evangelho de hoje convida a ir ao encontro do irmão que falhou e repreendê-lo a sós. No fundo é seguir a lógica de Deus que não quer a condenação do pecador, mas a sua conversão. Porque Deus acredita sempre na recuperação das pessoas. É necessário por isso ajudar o irmão a corrigir os seus erros. Não cair na maledicência ou na calúnia, que infetam as nossas relações mútuas. Contribuir para não inquinar o ambiente em que se tecem as relações humanas. Se quisermos verdadeiramente realizar uma obra de bonificação do nosso coração teremos que lutar contra tudo o que mina as relações dentro de uma comunidade ou grupo familiar ou social. A murmuração, a má-língua, a bisbilhotice, a coscuvilhice, a intriga ou o mexerico são um verdadeiro veneno que, uma vez difundido, é muito difícil de neutralizar. O Papa Francisco tem-nos alertado para essa praga que infesta também os cristãos.
3. Conta-se a propósito que uma vez uma mulher foi-se confessar a S. Filipe Néri, um santo romano de muito bom humor e boa disposição. A mulher acusou-se de ter falado mal de alguém e de ter caluniado algumas pessoas. O santo absolveu-a, mas deu-lhe uma estranha penitência. Pediu-lhe que fosse ao galinheiro dela, que agarrasse uma galinha e viesse ter com ele, depenando-a ao longo do percurso entre a sua casa e a residência do santo. Quando a mulher voltou com a galinha totalmente depenada, disse-lhe: “Agora volta para trás e recolhe uma a uma todas as penas que deixaste cair pelo caminho”. “É impossível – exclamou a mulher – o vento já as levou para muito longe daqui”. “Pois é – retorquiu o santo. Estás a ver? Do mesmo modo que é impossível recolher todas as penas da galinha, assim é impossível retirar as murmurações e calúnias que saíram da tua boca”.
Não devemos poluir o ambiente com calúnias ou maledicências. Nunca julgar nem condenar, mas usar misericórdia para com todos. São facetas do amor para com os irmãos da comunidade. São aspetos daquele mandamento que Jesus nos deixou e que S. Paulo tão bem exprimiu quando recomendou: “Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros.
Darci Vilarinho