“Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. (Jo 20, 8-9)
“A Páscoa é uma festa que chega ao coração!” (Bem-aventurado José Allamano)
Caríssimos Missionários, familiares, bem-feitores, amigos;
Compartilhamos juntos este contexto dramático, marcado pela pandemia na Ásia, na Itália e na Europa. Tomámos parte nos sofrimentos de muitas pessoas assutadas e extraviadas, todavia, sem tirar os olhos do empenho dos nossos missionários e colaboradores ao lado daqueles que no mundo continuam a viver na miséria e nas dificuldades mais extremas que já existiam antes desta epidemia. Manifestamos a nossa forte preocupação pela chegada do vírus a outros Países, sobretudo em África, ali onde estamos a trabalhar, até agora largamente poupados, mas indubitavelmente mal equipados para gerir uma situação dramática, impreparados para contrastar o vírus com um fraco, quase inexistente sistema sanitário e manifestamente inadequado.
É um momento gestante. Em que se sente a precariedade de tudo e onde prevalece a incerteza sobre o futuro. Nunca como nestes dias podemos voltar a compreender que estamos todos verdadeiramente ligados uns com os outros. Que somos responsáveis pela vida dos outros, e que de consequência o comportamento de cada um pode fazer a diferença. Para si e para os outros. Afinal de contas, é exatamente a responsabilidade a nível pessoal, a última e definitiva barreira que pode fazer com que a transmissão do vírus se interrompa. Mas também a primeira e sólida condição para reconstruir o nosso futuro. Conscientes de que na realidade ninguém se salva sozinho, uma autêntica comunidade está verdadeiramente purificada quando não deixa nenhum dos seus membros de lado ou para trás.
Nos Evangelhos, Jesus usa várias vezes a palavra aramaica “Kum”, que significa: levanta-te! Caminha! Vem cá para fora! É uma palavra mágica que perfuma de ressurreição. Vem cá para fora. Põe-te a andar. Eis o significado profundo da Páscoa: re-começa a viver!
Não temos dificuldades em acreditar na morte de Jesus na cruz. A dor e a morte fazem parte da vida. Acreditar que Cristo ressuscitou verdadeiramente é muito difícil. A nossa razão rebela-se. É absurdo.
Enquanto que sobre a paixão de Jesus os Evangelhos nos fornecem muitos detalhes (processo, flagelação, cuspidelas, traições), sobre a ressurreição pelo contrário, são quase silenciosos.
Aquilo que aconteceu na manhã de Páscoa há dois mil anos, nunca o saberemos. De facto, os Evangelhos não se preocupam em produzir provas para demonstrar que Jesus ressuscitou verdadeiramente. Porquê? Porque a ressurreição não se demonstra. A Páscoa é um acontecimento para ser vivido e não explicado. Acreditar não é fruto de um simples raciocínio. Acreditar é viver. O crer, ter fé na ressurreição é um estilo de vida. É um modo de ser. A Páscoa é feita de gestos, de sorrisos, de olhares.
S. João no seu Evangelho propõe-nos como exemplo de crente uma mulher: a Madalena. Uma marginalizada, uma prostituta. Foi exatamente ela que na manhã de Pascoa chegou primeiro, quando ainda era escuro, corre ao sepulcro e em seguida anuncia aos discípulos que Cristo ressuscitou. Maria Madalena acreditou porque era uma apaixonada. Acreditava na vida. Acreditava no impossível. A sua fé nasce do amor. Maria Madalena ensina-nos também hoje que se pode aprender a acreditar só se aprendermos a amar.
Na vida de cada um existem momentos difíceis e desafios que temos que enfrentar. Nestes dias, aos sofrimentos quotidianos, soma-se uma prova para todo o nosso mundo. Porém, aquilo que conta, não é a noite, mas como a passas: se ao longe vislumbras uma luz, então avançarás com coragem e descobrirás que as trevas não são a última palavra. Jesus que ressuscita, oferece-nos uma antecipação de luz na noite que vivemos. Deixemos que a nossa existência seja conquistada e transformada pela ressurreição!
A Páscoa é um convite a nunca nos deixarmos vencer pela resignação, é dar lugar à esperança, é colocar os mais pequenos em primeiro lugar na nossa atenção quotidiana, é acreditar na fraternidade. O amor e a vida são mais fortes que a morte. Não é por acaso que a Páscoa coincide sempre com a primavera. Primavera quer dizer rebentos, flores, expetativa, esperança. É um convite a aprender a viver como ressuscitados para continuar o nosso serviço de Consolação.
Boa Páscoa de Ressurreição a todos!
Coragem e avanti in Domino!
P. Stefano Camerlengo, imc