Liturgia do 33º Domingo Comum – Ano C

Nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá

Ml 3, 19-20;  2 Tes 3, 7-12;Lc 21, 5-19

De acordo com o Evangelho de São Lucas, estamos perto da Páscoa judaica e Jesus, como todo o judeu piedoso, vai a Jerusalém e ao templo para a peregrinação da Páscoa. Alguns falam com admiração da extraordinária beleza do templo “ornado com belas pedras”, que fora reconstruído após o exílio da Babilónia cerca do 515 aC e ampliado em 64 dC. por Herodes, o Grande. O Templo era considerado indestrutível e um sinal da fidelidade de Deus ao seu povo. Mas Jesus observa que, como todas as coisas humanas, ele também desabará. De facto “de tudo o que estais a ver não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído” (v.6) Daí a pergunta imediata dos apóstolos: “Quando sucederá isso?” Claramente, a perda do templo indica inevitavelmente para os judeus e o evangelista Lucas o fim do mundo, mas Jesus não responde a essa pergunta, não lhe cabe a ele dar a resposta; de facto, nas passagens paralelas de Mateus 24 e Marcos 13, lemos: “Quanto àquele dia e hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas apenas o Pai”.
Jesus preocupa-se simplesmente em dar indicações claras sobre como se comportar e como discernir os verdadeiros dos falsos profetas.

1.Antes de tudo, ele exorta-nos a não sermos enganados por aqueles que vão anunciando datas do fim do mundo, a começar pelos milenaristas medievais até chegarmos aos últimos dois séculos, quando os adventistas do sétimo dia primeiro e depois as Testemunhas de Jeová em vão anunciaram pelo menos quatro datas (que nunca aconteceram) da catástrofe final.
A qualquer momento, então, surgem falsos messias, profetas ou pessoas que, segundo eles, teriam o privilégio de saber coisas que normalmente são desconhecidas. “Não os sigais!” diz Jesus (v.8).

2.Em segundo lugar, o Mestre diz: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis aterrorizados” (v.9). Todo o discurso de Jesus concentra-se no tempo da história como tal, o tempo imediatamente após a sua ascensão e o subsequente até nós.
Infelizmente o tempo histórico é sempre, em todas as épocas, atravessado por conflitos e revoltas de vários tipos e, a esse respeito, a indicação de Jesus ainda é muito clara: “Não vos alarmeis!”, isto é, não entreis em pânico, em ansiedade, na precipitação que é sempre um mau conselheiro. Isto é, vivei o vosso tempo na fidelidade ao Evangelho.

3, Outras previsões de Jesus se seguem, tanto de factos que historicamente teriam acontecido imediatamente após seu retorno ao Pai, como as perseguições dos apóstolos, ou os flagelos de todos os tipos (terremotos, fomes, guerras e epidemias) que sempre existiram em todos os tempos e continuarão a existir neste mundo em decadência.
Qual é a atitude certa a seguir? Infelizmente haverá perseguições aos cristãos em todos os momentos: “sereis odiados por todos por causa do meu nome” (v.17); mas isso será uma oportunidade para testemunhar a nossa fé (v.13). E em tudo o que nos acontecer nunca faltará a presença, assistência e a ajuda do Senhor Jesus: “Eu vos darei língua e sabedoria, às quais todos os vossos adversários não poderão resistir, nem contrariar” (v.15) e acima de tudo ” nem um cabelo da vossa cabeça  se perderá”(v.19). Quer dizer, a fé do discípulo é a garantia da sua vitória sobre o medo e a ansiedade: a absoluta certeza de que o amor e a proteção de Deus são mais fortes do que qualquer mal.

Darci Vilarinho