Ex 32, 7-14; 1Tim 1, 12-17; Luc 15, 1-32
O Evangelho deste Domingo é a narração da ternura de Deus nosso Pai e do cuidado incalculável que Ele tem connosco. É um amor que não fica parado perante a nossa indiferença ou mesmo perante as nossas ofensas ou os nossos desvarios, porque respeita sempre a nossa liberdade. Até a liberdade de o ofender.
1. É assim que São Lucas nos apresenta o coração de Deus quando narra a parábola da ovelha perdida ou do filho que livremente se afastou da casa do Pai. Essa imagem do pastor que busca a ovelha perdida, que não se cansa de a procurar por montes e vales, porque deseja encontrá-la, e quando a encontra não sabe fazer outra coisa senão festa: “alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida” é deveras a revelação do coração de Deus. Da “insensatez” do nosso Deus. Os “perdidos” pertencem a Deus. Procura-os apaixonadamente e quando os recupera manifesta efusivamente a sua alegria. É assim o coração do bom Pastor, à procura de todos aqueles que andam perdidos, para os trazer ao calor da sua amizade. Leiam o Evangelho com os olhos de Cristo, não com olhos “saramaguianos”. O modo como trata a mulher apanhada em adultério, como a perdoa e lhe restitui a dignidade, como a manda ir em paz, com o coração purificado e alegre. A maneira como convida Zaqueu a descer do sicómoro e se faz convidado para sua casa, concedendo-lhe o seu perdão. A maneira como trata Judas, o traidor, chamando-lhe amigo e aceitando o beijo da traição ou o modo como perdoa as negações de Pedro e continua a depositar nele a sua confiança… São manifestações de alguém que se perde por quem vive desviado. Jesus, o Bom Pastor, não sabe agir de outro modo; o seu coração de misericórdia continua ávido de encontrar as ovelhas perdidas, ansioso de lhes conceder a sua misericórdia. Ele veio para os pecadores e não para os justos, para os doentes e não para os sãos.
2. O que é que conta para nós? O número ou as pessoas? É uma lição para nós, seus discípulos, sempre muito preocupados com os que já fazem parte do nosso rol. Mais absorvidos com o trabalho de alimentar os que já estão dentro do que procurar os que andam fora. Jesus ensina-nos o seu modo de fazer missão: sair porventura do nosso grupo, da nossa capela ou da sacristia, da confraria ou do grupo apostólico para irmos com o coração misericordioso procurar ovelhas perdidas. Mais do que ficar instalados nas nossas conquistas ou escandalizados com o mal do mundo, precisamos de ter um “coração universal”, onde caiba a humanidade inteira, onde haja lugar para todos, onde os mais pecadores, mais marginais, mais ovelhas perdidas têm a nossa predileção, o nosso carinho, o nosso amor.
Lembrou-nos isto, há tempos, o bispo D. António Couto, falando-nos do valor que tem para Deus, e portanto para a nossa missão, a ovelha perdida. “O Pastor deixará o seu rebanho para ir à procura da ovelha perdida”. A ovelha perdida é sagrada para Deus. “Infelizmente, para nós conta a estatística, os números, e não as pessoas”. Damos mais importância à quantidade de fiéis do que à situação de cada um. “Quando um irmão deixa de frequentar a Igreja, ninguém pergunta por ele. É importante que os nossos irmãos se sintam amados. Aqui tendes a missão que nunca mais acaba. Apostai tudo na ovelha perdida, nem que para isso percais um mês, um ano ou uma vida inteira. O trabalho, hoje, é de um a um”.
Talvez devamos corrigir a nossa visão de Deus, que é deveras medíocre e interesseira. Nós dizemos: “Gosto de ti, porque és amável; mereces o meu amor, porque és bom”. Diz-nos o nosso Deus: “Amo-te obstinadamente e procuro-te sem desanimar, porque sei que o meu amor te tornará bom”. Há uma grande diferença.
Darci Vilarinho