A Polónia acolheu um grupo de missionários da Consolata a trabalhar no continente europeu, para um retiro itinerante. A iniciativa decorreu entre os dias 28 de agosto e 1 de setembro e juntou missionários vindos dos grupos Itália, Espanha, Portugal, Inglaterra, Polónia e Casa Geral.
Longe do clássico ‘uma casa de retiros e um pregador”, tratava-se aqui de experimentar um novo modelo de Exercícios Espirituais, itinerantes, sem lugar fixo. A ideia era percorrer alguns lugares significativos para a Igreja da Polónia, para a Igreja Universal, e para o mundo. “Um encontro itinerante para nos encontrarmos com santos e com lugares santos que há na Polónia”, explicou logo no primeiro dia o padre Luca Bovio, missionário da Consolata italiano a trabalhar naquele país europeu que, com mais dois colegas de comunidade, organizaram este Retiro europeu.
As visitas e reflexões incidiram em lugares como o Santuário de São João Paulo II e o Santuário da Divina Misericórdia, em Cracóvia, assim como os campos de concentração de Auschwitz e Dirkenau, seguindo-se o Santuário de Czestochowa, e concluindo já em Varsóvia com uma missa e almoço de encerramento dos Exercícios Espirituais na casa e comunidade dos Missionários da Consolata.
A figura inspiradora de Karol Wojtyla
O primeiro dia do retiro decorreu nas instalações do santuário dedicado a São João Paulo II, em Lagiewniki, Cracóvia, e as reflexões ficaram por conta do padre Dariusz, pároco numa paróquia do centro histórico. Com doutoramento sobre a figura de S. João Paulo II, este padre diocesano fez duas belas e fundamentadas reflexões sobre «João Paulo II e o sacerdócio», e «João Paulo II aos sacerdotes». Além disso, partilhou aspetos interessantes da vida e obra do papa polaco, ainda enquanto seminarista, padre e depois bispo de Cracóvia. Num segundo momento fez de guia do grupo pelos recantos do santuário, explicando a grande riqueza de capelas e painéis especialmente da Basílica, dedicada a um papa que tinha como lema de vida “Não tenhais medo!”. Além deste convite a não termos medo – “das próprias fragilidades, das pessoas e de Cristo” -, o padre Dariusz apontou um outro aspeto que é considera uma marca forte na espiritualidade e sentido pastoral de Karol Wojtyla: a questão da paternidade. O mundo de hoje e especialmente os jovens “precisam de sacerdotes com um grande sentido de paternidade: capazes de os escutar, acolher, dar conselhos para a vida”, sublinhou Dariusz, ao mesmo tempo que ia explicando com grande detalhe toda a teologia e visão bíblica e pastoral que sustenta toda a arquitetura, arte sacra e iconografia daquele santuário.
Santuário da Divina Misericórdia
Próximo do Santuário de S. João Paulo II fica o Santuário da Divina Misericórdia, também em Lagiewniki, e foi aí que decorreu o segundo dia do Retiro. A irmã Elizabete, ex-superiora geral da Congregação das Irmãs de Nossa senhora da Misericórdia, junto ao santuário, deu-nos duas palestras sobre o sacerdócio e a misericórdia. Santa Faustina Kowalska, religiosa, mística, nasceu, viveu parte da sua vida e morreu naquele convento. Por causa das aparições que teve, foi a iniciadora do culto da Misericórdia Divina, culto que mais tarde o Papa João Paulo II (já antes de ser papa ele ia rezar àquele convento) promoveu no seu pontificado, assim como a devoção a Santa Faustina. A Irmã Elizabete fez duas reflexões: a primeira versou sobre o sacerdócio no diário de Santa Faustina e a segunda, mais teológica, sobre o papel do sacerdote no anúncio da misericórdia. Um percurso pelos recantos do convento e do santuário, de que elas cuidam, foi também de grande ajuda para a reflexão.
O dia terminou com a oração de vésperas na Paróquia de Santa Cruz (onde o padre que fez as reflexões do primeiro dia é pároco), no centro histórico da cidade de Cracóvia. Um templo que curiosamente tem no meio, próximo da entrada, uma grande coluna que a mantém forte e de pé há já 8 séculos. De grande simbolismo, portanto. Antes do jantar e já ao anoitecer, seguiu-se um passeio pela cidade.
O silêncio, diante do mal
A visita aos campos de concentração e extermínio de Aushwitz e Birkenau, onde foram torturadas e mortas centenas de milhares de pessoas (crianças incluídas) durante a II Guerra Mundial, marcaram o terceiro dia dos exercícios. Uma guia levou-nos pelos vários recantos do campo: dos blocos onde os prisioneiros ficavam apinhados, sem qualquer higiene, alimentação digna ou cuidados de saúde, até às câmaras de gaz e aos fornos crematórios. No rosto e no olhar do visitante, lia-se claramente a pergunta: como foi aquilo possível? Perante tamanha barbaridade, restava-nos um silêncio ao mesmo tempo ruidoso e eloquente como resposta.
Santuário de Czestochowa
Czestochowa, a duas horas de Cracóvia, é lugar de visita obrigatória, especialmente por causa do santuário dedicado à Virgem Negra de Czestochowa, padroeira da Polónia. A manhã do quarto dia foi assim passado neste santuário, onde celebrámos a missa e depois almoçamos a convite dos padres Paulinos (conventuais, que estão à frente daquele santuário), no refeitório do mosteiro. Deu para perceber o quanto este santuário, considerado um grande centro espiritual para a Polónia, atrai a si milhares e milhares de peregrinos. Uma devoção já muito antiga e muito ligada especialmente a períodos históricos conturbados da Polónia. O povo reconhece-lhe numerosos milagres e graças.
Mais cerca de quatro horas de viagem e, ao final da tarde do mesmo dia, chegámos a Varsóvia. Ficámos hospedados no antigo seminário diocesano, agora Hostel. E o fim do retiro já se aproximava a passos largos.
Comunidade da Consolata
O primeiro Retiro dos IMC na Europa terminou já no dia seguinte, domingo, 1 de setembro, com a missa na capela da única presença que os missionários da Consolata tem na Polónia, em Varsóvia. Na missa e almoço de encerramento juntou-se um grupo de 23 portugueses que o padre Álvaro Pacheco trouxe das paróquias onde faz pastoral na região da Figueira da Foz. Estão de visita a alguns lugares turísticos da Polónia. Na missa, que contou também com a participação de pessoas do lugar, o padre Luca fez um resumo dos dias do retiro e falou também da missão que aquela comunidade realiza a partir daquela comunidade da Consolata.
Com a presença do superior da nova Região Europa, padre Gianni Treglia, e com o italiano como língua comum ao longo de todo o retiro, estes dias foram sem dúvida uma forte experiencia de oração, encontro e partilha por parte de um grupo de missionários que trabalham no continente europeu. Assim também se vive e fortalece o serviço ao Evangelho e à missão.
De Portugal participaram neste Retiro 5 missionários da Consolata.
Albino Brás