Ex 3, 1-15; 1Cor 10, 1-12; Lc 13, 1-9
Na sua pregação pela Palestina, Jesus preocupava-se com a situação das pessoas. Despertava continuamente nelas a necessidade de se converterem, isto é, de orientarem a sua vida para Deus. Para isso tinha descido à terra e tinha assumido a nossa humanidade. Há muitas passagens no Evangelho, onde Jesus, com palavras, com parábolas e com exemplos, ou partindo até mesmo de acontecimentos do seu tempo, chamava as pessoas para uma vida mais justa, mais humana, mais autêntica, mais humilde, mais voltada para Deus e para as pessoas deste mundo. Uma vida que não fosse estéril, oca, vazia, mas que produzisse frutos.
Foi o que aconteceu com a parábola que São Lucas nos transmite neste Domingo acerca de uma figueira estéril. Conta-se em poucas linhas: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar o terreno?’ Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu entretanto vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano”.
O dono da vinha até estava a tomar uma decisão muito sensata. Se uma planta, que ocupa um bom pedaço de terreno, não produz, o que é que está lá a fazer? Corta-se.
Mas o que tratava da vinha, contra toda a sensatez humana, propõe fazer tudo o que está ao seu alcance para a salvar. O que é que vai fazer? Vai cavar à volta da planta para que possa ter a humidade necessária e vai estrumar a terra para que a figueira se possa alimentar. Com o seu amor, a sua solicitude, o seu trabalho e com a sua confiança, a figueira fica convidada a produzir alguma coisa. Conseguirá?
É a mim e a ti que se dirige esta parábola. Para quê? Para provocar a minha ou a tua reação. Para quê uma figueira estéril a ocupar o terreno? Para quê uma existência estéril, sem vida, sem criatividade, sem frutos para mim e para os outros? Para quê uma religião sem seguimento de Jesus, sem a prática da sua palavra, sem vida de caridade, sem obras em favor dos que mais necessitam? A pergunta de Jesus – que é misericordioso e por isso espera sempre algo mais de nós – deve entrar dentro de mim para eu ser capaz de avaliar a minha vida e saber dar-lhe uma volta, se for necessário. O dar a volta é o que se chama conversão.
Esta Quaresma é uma oportunidade que Deus me (te) dá para cultivar um pouco mais o terreno, para o adubar e regar com a oração, o encontro com Deus, a prática das boas obras, a vivência da caridade e de tudo aquilo que Jesus veio ensinar. Até quando farei esperar o meu Senhor? Não há tempo a perder.
A vida é uma oportunidade que não podemos perder para descobrir quem é Deus e quem somos nós. O nosso Deus, tal como Jesus nos ensinou, é um Deus paciente e compassivo, que vai esperando por nós até que deixemos certos modos de agir e façamos o que é melhor para nós, segundo o seu divino projeto. A nossa conversão, a mudança de atitudes, a reorientação da nossa vida é o primeiro fruto que nos é pedido. Deus, por seu lado, intervém sempre no respeito da nossa liberdade e nos cuidados e atenções maternas e paternas de que precisamos.
Darci Vilarinho