Eclo 27, 5-8; 1 Cor 15, 54-58; Lc 6, 39-45
Com palavras muito fortes Jesus recorda-nos, no Evangelho deste domingo, uma das normas fundamentais da vida cristã: ser seus discípulos. Quem quiser conduzir sozinho a sua própria vida é um cego que conduz outro cego. O bom fruto está sempre numa árvore sólida. Somos sempre maus juízes de nós mesmos, se não há ninguém que nos ajuda. O nosso mestre é Jesus e nós somos seus discípulos que se deixam instruir por ele fiando-se das suas palavras.
Também são Paulo convida nas suas cartas os cristãos a corrigirem-se mutuamente. Diz ele aos cristãos de Tessalónica: “Vivei em paz uns com os outros. Admoestai quem é indisciplinado, animai quem está desanimado, sustentai quem é fraco, sede magnânimos com todos”.
No pensamento de Jesus quem corrige o seu irmão deve ser ele mesmo irrepreensível no seu comportamento. Antes de olharmos para os outros, devemos olhar para nós. Educados pela misericórdia de Deus, todos somos chamados a exercer o ofício da “correção fraterna”, para que a comunidade possa revestir-se sempre mais do modo de ser e proceder de Jesus. Quem corrige não pode humilhar aquele que é corrigido, querendo realçar a sua superioridade moral. Mas tem que olhar primeiro para si próprio, de acordo com as palavras de Jesus no Evangelho deste domingo: “Como pretendes tirar o cisco do olho do teu irmão, se tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem o cisco na vista do teu irmão”. É bem verdade que quando apontamos o dedo para os outros, três dedos ficam apontados para nós.
Porque somos discípulos de Jesus, o critério para a correção não é a lei, mas a presença de Jesus que está no meio da comunidade. Quando a correção é feita a partir da lei, assumimos a posição de juízes, rompemos a comunhão, criamos categorias de pessoas (perfeitas e imperfeitas) e caímos no legalismo e moralismo. Porque somos discípulos de Jesus, todos devemos “corrigir-nos” mutuamente, tendo os olhos fixos em Jesus; no seguimento de Jesus ninguém chega à “perfeição” a ponto de poder corrigir os outros. Por isso, a correção fraterna é um estilo de vida que não se limita aos erros e fracassos; ela implica um ativar mutuamente os dons e capacidades que ainda não se puderam expressar. Quer dizer, antes de corrigirmos, devemos fazer um exercício de promoção fraterna, realçando as virtudes e capacidades que há no irmão. É um verdadeiro ato de amor ao irmão. A presença de Jesus no meio da comunidade é sempre o horizonte inspirador para que todos cresçam na identificação com Ele. Então sim, é que seremos árvores boas que dão bons frutos. E o fruto melhor é a comunhão entre os irmãos de uma comunidade ou de uma família. Diz Enzo Bianchi que “o «salvamento» de um irmão ou de uma irmã, é obra delicada, esforçada, que requer paciência e deve ser inspirada só pela misericórdia. Porque todos somos débeis, todos caímos e precisamos de ser ajudados e perdoados: na comunidade cristã não há puros que ajudam os impuros ou sãos que curam os doentes! Mais cedo ou mais tarde conhecemos o pecado e precisamos de uma ajuda inteligente e verdadeiramente misericordiosa, a ajuda que virá de Deus”.
Darci Vilarinho