Sab 1, 13-24; 2 Cor 8, 7-15; Mc 5, 21-43
No 13º Domingo do Tempo Comum, a liturgia apresenta-nos o rosto de um Deus apaixonado pela vida do homem. Na 1ª leitura, o Livro da Sabedoria recorda-nos que Deus não é o criador da morte e que o seu agir está orientado totalmente para a vida. No Evangelho, Jesus cura uma mulher que, por causa da sua doença não podia entrar em relação com os outros nem gerar a vida, e transmite a vida a uma menina de 12 anos que a morte tinha prematuramente roubado ao afeto dos seus pais. São dois milagres de Jesus entrelaçados pela fé das pessoas. É a fé que os une. Domingo passado dizia Jesus aos Apóstolos cheios de medo por causa da tempestade: “Como é que ainda não tendes fé?”. Hoje é o mesmo Jesus que diz à mulher que há doze anos perdia sangue: “Vai que a tua fé te salvou”. E a Jairo, chefe da sinagoga, diz: “Não temas, basta que tenhas fé”.
É esta a diferença substancial entre os Apóstolos que também tocam em Jesus, mas sem resultados, e esta mulher doente que toca não só as vestes, mas o coração de Cristo e lhe arrebata essa força interior que a cura. A fé aplaca as tempestades interiores, a fé cura as nossas feridas interiores, a fé faz-nos ressurgir. A fé dá-nos a capacidade de resistir, quando tudo parece perdido. Na vida de cada um de nós não faltam e não faltarão momentos de “morte” ou de desespero. São momentos e situações que tanto podem ser obstáculos à nossa aproximação a Deus e fazer-nos esquecer o seu amor de Pai, como também se podem tornar um lugar de encontro com o Deus que ama a vida, com o Pai que anseia por se encontrar connosco.
Deus é vida – “Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da própria natureza”, diz o Livro da Sabedoria. A vida é um dom de Deus. Tudo o que vive se parece com Ele, porque Deus é vida. Fomos criados à sua imagem para vivermos eternamente com Ele. “Eu vim para que tenham Vida e a tenham em abundância”, disse Jesus. Se assim é, qual será a nossa resposta? Respeitar a própria vida e a dos outros. Lançar à terra sementes de vida e lutar contra todas as situações de morte. Trabalhar para que todos tenham vida e a tenham com abundância. A coisa mais preciosa que podemos desejar é que ninguém passe por nós em vão. Que todos aquelas pessoas que encontrarmos fiquem contagiadas pelo nosso modo de viver.
Deus criou-nos para uma vida de relação – Jesus Cristo, nosso Salvador, veio dizer-nos que a vida é um dom, fruto do amor de Deus. Que é um projeto que nos é dado em germe. Que é uma responsabilidade, porque depende de mim o facto de ser digna ou desgraçada. Sendo assim, que sentido dou à minha vida? Que relação existe entre a minha vida e a vida dos outros, entre a minha vida e Quem ma confiou? A minha vida é sempre uma vida de relação. “Aliviai com a vossa abundância a indigência dos mais pobres”, pede-nos, sem rodeios o Apóstolo São Paulo na liturgia deste domingo.
Oxalá que nunca nos isolemos da vida dos outros e que a nossa “abundância” nunca deixe ninguém na indigência.
Darci Vilarinho