«Os religiosos são a vanguarda profética, são destemidos»

No segundo dia da XI Conferência Regional (CR) do Instituto Missionário da Consolata (IMC) em Portugal, os oradores convidados José Tolentino Mendonça e António Marujo deixaram palavras de apreço pela vida consagrada, ao mesmo tempo que animaram os missionários a repensar os métodos de evangelização e missão, à luz da renovação posta em marcha pelo Papa Francisco.

A manhã desta terça-feira começou com a Eucaristia; seguiram-se as palavras de boas vindas por parte do padre Eugénio Butti, superior regional, que logo após passou a palavra aos superiores vindos das outras regiões IMC da Europa.

Explicada a metodologia, horários e programa desta Conferência Regional, boa parte da manhã foi dedicada à apresentação do relatório da Superior Regional, acabando por suscitar algumas observações por parte de alguns dos presentes. De tarde tiveram lugar as conferências dos oradores convidados.

António Marujo, jornalista que se tem especializado na área da religião, trouxe à assembleia um olhar sobre a Igreja atual e dissertou sobre o papel da Vida Religiosa no panorama eclesial contemporâneo. Referiu algumas estatísticas que mostram a diminuição do número de católicos e o aumento dos evangélicos em Portugal, especialmente na região de Lisboa, mas abriu uma porta de esperança: «O catolicismo está em perda, mas ainda existe um grande campo para a ação evangelizadora».

Marujo, sustentou que a vida consagrada «tem sido e pode continuar a ser um sinal de contradição em relação ao uso do tempo, ao uso dos bens». Porém, adverte que esta não se deve acomodar. «Uma pastoral missionária exige o abandono do ‘sempre se fez assim’», disse, citando Francisco, na Evangelium Gaudium. «É preciso sermos criativos. É preciso estar permanentemente atento ao que se passa à nossa volta», desafiou. «O Papa quer que sejamos discípulos missionários; não quer que distingamos as duas palavras», acrescentou.

José Tolentino Mendonça, poeta, sacerdote e professor, fez uma leitura da Igreja contemporânea centrada na figura do Papa Francisco e o que ele significa para a Igreja e para o nosso tempo. O vice-reitor da Universidade Católica sublinhou «a paixão que ele tem pela evangelização». E explicou: «Desde o principio ele quis ser o mais evangélico possível, desde os sapatos que calçava, a ter trocado o Palácio Apostólico pela casa Santa Marta». Para o vice-reitor da Universidade Católica «todos os seus gestos e palavras tem tido um forte simbolismo».

«Um dos grandes méritos do Papa Francisco é obrigar-nos a pensar. Ele dá-nos a ousadia de dizer: durante séculos foi assim e agora temos que dar esta viragem evangélica. E nós conseguimos fazer isso se não estivermos presos ao poder.», desafiou. «Nós estamos a viver um cristianismo em recuo, de manutenção, que ousa pouco. E o mundo de hoje precisa de ser surpreendido. Os religiosos são a vanguarda profética, são destemidos, não têm nada a perder. O religioso inova. Hoje, o grande drama da Igreja é a sua autorreferencialidade. Por isso, a Igreja, hoje, tem que ser uma Igreja em saída. É preciso viver em saída. Temos que ser servidores da sua misericórdia. Testemunhar a companhia de Deus no meio das feridas. É suspender os nossos juízos críticos.», concluiu.

A XI Conferência Regional do IMC decorre em Montelo, Fátima, na Casa de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto, entre os dias 23 a 28 de abril, tem como tema “Discípulos missionários em saída, em Portugal” e conta com a presença de 43 missionários da Consolata.

Texto Albino Brás | Foto Ana Paula